O papa, muito brabo, meteu o pau
na crise e nos criseiros de plantão, mandando literalmente
que fossem plantar batatas, pois assim ao menos fariam algo
de útil pela humanidade. E o Lula, que estava naquela
de 'crise existe', 'crise não existe', finalmente concluíu
irritado, nestes dias, que essa crise não é confiável de
maneira alguma, já que acontece algo de novo todos os dias.
Crise que se preze tem que ser estável.
Uma amiga que mora em New York me ligou chateada,
dizendo que o trabalho ia mal. Ela trabalha num pub bacana e
as pessoas parece que pararam de se divertir, a
frequência caiu muito e ela, que ganha principalmente por
comissão, sofre.
Isso em New York, claro. Por aqui, nenhuma crise consegue abalar
o brilho (e o ibope) de mais uma edição do
BiguiBródi, que, afinal, é coisa séria, contribuindo enormemente
para a cultura da nação tupiniquim, numa mostra definitiva de
que a imbecilização global tem campo fértil por aqui.
Aliás, o BiguiBródi só perde mesmo em brilhantismo para
o gordo chato e pentelho que apavora os domingos,
pior do que qualquer crise. Afinal, ele é eterno, ao contrário
de qualquer crise, por mais gorda e chata que seja.
Crise financeira, crise existencial, crise sexual, crise de
identidade, crise de meia idade...mas afinal, a vida é assim mesmo,
e quem liga pra isso?
Isso me leva de volta ao tema deste post, que era um texto
muito bom de Bob Fernandes, que li hoje no Terra...Aí vai:
Bob Fernandes
Direto de Nova York (EUA)
"Os termômetros marcam 8 abaixo de zero,
a neve desce sobre a cidade,
o vento cortante do inverno arranca os humanos das ruas.
Nas bancas, nas capas de jornais e revistas, um rosto se multiplica:
Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos
que toma posse na terça 20 de janeiro.
Obama busca manter acesa a chama da esperança.
Ele está nas bancas, nas televisões, cada usuário de computador
que o desejar recebe suas mensagens diretas, olho no olho,
no sábado partirá de trem da Filadélfia para a capital,
vai incendiar corações e mentes das multidões pelo caminho,
mas ainda ecoa a pergunta de Jamil Moussa:
- … vocês acham que o Obama vai nos salvar?
Jamil, um dos 50 motoristas brasileiros da
Sonictours Vans& Limo Express.
No dia em que Jamil pergunta, mais um símbolo americano
dobra os joelhos em Nova York. A Macy’s Inc vai fechar 6 das suas
lojas de departamento na região metropolitana, 14 por todo o país.
Para fechar algumas de suas portas a Macy’s terá que torrar
US$ 65 milhões; direitos trabalhistas, dívidas etcetera.
Meyron E. Ullman III, o C.E.O da Macy’s,
deixa o comando no final do mês.
A cidade que sobreviveu ao 11 de Setembro e renasceu,
neste inverno de 2009 vê e vive a queda de símbolos
do capitalismo norte-americano.
Jamil Moussa toma a Quennsborough Bridge,
também conhecida como a ponte da 59.
Às costas, em Long Island, o imponente prédio de
empresas do Citibank. À frente e à esquerda, já em Manhattan,
a majestosa imagem do prédio do Citi na Lexington, entre 53 e 54.
Jamil pragueja contra Bush e lamenta:
-…meu Deus, quem diria, até o Citi quebrou…
Citibank, de sede erguida no final dos anos 70, início dos 80,
tempos da largada para o financismo sem freios com Ronald Reagan
e o yuppismo. Com seu desenho de telhado partido ao meio,
queda em declive, o topo do prédio arquitetado pela Emery Roth
e Filhos soa agora como o epitáfio de uma Era.
Despojos repartidos em 4 partes, é o destino do Citi.
Lamentos, lamúrias, perplexidade nas mesas dos cafés.
Dos cafés que sobrevivem. Starbucks? Já há meses se espalha o
fechamento de 600 casas, em Nova York e por todo o país.
E Nova York nem está tão mal, a se levar em conta outras paragens
nos Estados Unidos. É o 26º Estado no ranking do desemprego.
Dos 50 estados – mais o Distrito Federal -,
13 tem um déficit financeiro
de US$ 23 bilhões para o ano fiscal que se encerra em junho.
Nova York e seu cinturão, Nova Jersey e Pensilvânia, têm juntas
um buraco próximo dos US$ 10 bilhões; o fosso da Califórnia
está estimado entre US$ 9,8 e US$ 14 bilhões.
Cenário de 31 de dezembro último, quando o PIB conhecido ainda
é o de 2007 – US$ 13,8 trilhões – e dívida interna pública chega
a 60%: per capita a dívida é de US$ 37.316,00.
Tempos duros. Tudo pode ser verdade, creem as multidões.
Daily Kos é um site liberal.
Nele, um certo Jerome Manis anuncia seu livro:
“América, 100 milhões de vítimas”.
No anúncio, Jerome Manis amontoa:
-…100 milhões largaram as escolas,
58 milhões tem distúrbios mentais, 47 milhões não
tem seguro-saúde, 37 milhões moram
em situação de pobreza…
The Huffington Post, site-blog de grande audiência, informa:
Queda também na Broadway.
Nove espetáculos vão baixar as cortinas antes da hora.
Mesmo com preços mais baixos, outros 4 shows saem de
cena nos próximos dias.
Obama acena com a esperança, mas vida, dura vida, segue.
Os Samaritanos de Nova York detectaram um aumento
de 16% nas chamadas para o serviço de
prevenção ao suicídio.
Em Miami, só nesse ano, mais de 500 ligações; basicamente dos
que perderam suas casas no lamaçal do sub-prime.
Na cidade-símbolo do prazer aos olhos de boa parte do mundo,
imagina-se que pelo menos um dos seus
serviços ainda está rijo, de prontidão.
Nem tanto assim, informam representantes
da mais antiga profissão do mundo.
Os relatos são de garotas que faturam
US$ 1 mil por noite, pelo menos.
Elas, estranhamente, dizem seguir a faturar.
Mas informam que a posição mudou.
Boa porção de clientes com muito dinheiro
não está mais à procura de sexo.
Eles querem palavras de apoio, conforto,
elevar a moral, escapar da depressão.
E assim muitas moças de Nova York estão mudando de profissão.
Apresentam-se como terapeutas corporais, mestras de Yoga,
discípulas de Buda…
Dez da manhã da quinta-feira 15 de janeiro de 2009.
Nas rádios, internet, nas bancas, segue o bombardeio
de informações sobre a posse de Barack Obama.
No noticiário da TV, o hino nacional ao fundo:
-…Deus Salve a América."
E eu acrescento: a do Sul, de preferência.
Quem sobreviver, verá.
Marco Angeli, janeiro de 2009, ano 3
na crise e nos criseiros de plantão, mandando literalmente
que fossem plantar batatas, pois assim ao menos fariam algo
de útil pela humanidade. E o Lula, que estava naquela
de 'crise existe', 'crise não existe', finalmente concluíu
irritado, nestes dias, que essa crise não é confiável de
maneira alguma, já que acontece algo de novo todos os dias.
Crise que se preze tem que ser estável.
Uma amiga que mora em New York me ligou chateada,
dizendo que o trabalho ia mal. Ela trabalha num pub bacana e
as pessoas parece que pararam de se divertir, a
frequência caiu muito e ela, que ganha principalmente por
comissão, sofre.
Isso em New York, claro. Por aqui, nenhuma crise consegue abalar
o brilho (e o ibope) de mais uma edição do
BiguiBródi, que, afinal, é coisa séria, contribuindo enormemente
para a cultura da nação tupiniquim, numa mostra definitiva de
que a imbecilização global tem campo fértil por aqui.
Aliás, o BiguiBródi só perde mesmo em brilhantismo para
o gordo chato e pentelho que apavora os domingos,
pior do que qualquer crise. Afinal, ele é eterno, ao contrário
de qualquer crise, por mais gorda e chata que seja.
Crise financeira, crise existencial, crise sexual, crise de
identidade, crise de meia idade...mas afinal, a vida é assim mesmo,
e quem liga pra isso?
Isso me leva de volta ao tema deste post, que era um texto
muito bom de Bob Fernandes, que li hoje no Terra...Aí vai:
Direto de Nova York (EUA)
"Os termômetros marcam 8 abaixo de zero,
a neve desce sobre a cidade,
o vento cortante do inverno arranca os humanos das ruas.
Nas bancas, nas capas de jornais e revistas, um rosto se multiplica:
Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos
que toma posse na terça 20 de janeiro.
Obama busca manter acesa a chama da esperança.
Ele está nas bancas, nas televisões, cada usuário de computador
que o desejar recebe suas mensagens diretas, olho no olho,
no sábado partirá de trem da Filadélfia para a capital,
vai incendiar corações e mentes das multidões pelo caminho,
mas ainda ecoa a pergunta de Jamil Moussa:
- … vocês acham que o Obama vai nos salvar?
Jamil, um dos 50 motoristas brasileiros da
Sonictours Vans& Limo Express.
No dia em que Jamil pergunta, mais um símbolo americano
dobra os joelhos em Nova York. A Macy’s Inc vai fechar 6 das suas
lojas de departamento na região metropolitana, 14 por todo o país.
Para fechar algumas de suas portas a Macy’s terá que torrar
US$ 65 milhões; direitos trabalhistas, dívidas etcetera.
Meyron E. Ullman III, o C.E.O da Macy’s,
deixa o comando no final do mês.
A cidade que sobreviveu ao 11 de Setembro e renasceu,
neste inverno de 2009 vê e vive a queda de símbolos
do capitalismo norte-americano.
Jamil Moussa toma a Quennsborough Bridge,
também conhecida como a ponte da 59.
Às costas, em Long Island, o imponente prédio de
empresas do Citibank. À frente e à esquerda, já em Manhattan,
a majestosa imagem do prédio do Citi na Lexington, entre 53 e 54.
Jamil pragueja contra Bush e lamenta:
-…meu Deus, quem diria, até o Citi quebrou…
Citibank, de sede erguida no final dos anos 70, início dos 80,
tempos da largada para o financismo sem freios com Ronald Reagan
e o yuppismo. Com seu desenho de telhado partido ao meio,
queda em declive, o topo do prédio arquitetado pela Emery Roth
e Filhos soa agora como o epitáfio de uma Era.
Despojos repartidos em 4 partes, é o destino do Citi.
Lamentos, lamúrias, perplexidade nas mesas dos cafés.
Dos cafés que sobrevivem. Starbucks? Já há meses se espalha o
fechamento de 600 casas, em Nova York e por todo o país.
E Nova York nem está tão mal, a se levar em conta outras paragens
nos Estados Unidos. É o 26º Estado no ranking do desemprego.
Dos 50 estados – mais o Distrito Federal -,
13 tem um déficit financeiro
de US$ 23 bilhões para o ano fiscal que se encerra em junho.
Nova York e seu cinturão, Nova Jersey e Pensilvânia, têm juntas
um buraco próximo dos US$ 10 bilhões; o fosso da Califórnia
está estimado entre US$ 9,8 e US$ 14 bilhões.
Cenário de 31 de dezembro último, quando o PIB conhecido ainda
é o de 2007 – US$ 13,8 trilhões – e dívida interna pública chega
a 60%: per capita a dívida é de US$ 37.316,00.
Tempos duros. Tudo pode ser verdade, creem as multidões.
Daily Kos é um site liberal.
Nele, um certo Jerome Manis anuncia seu livro:
“América, 100 milhões de vítimas”.
No anúncio, Jerome Manis amontoa:
-…100 milhões largaram as escolas,
58 milhões tem distúrbios mentais, 47 milhões não
tem seguro-saúde, 37 milhões moram
em situação de pobreza…
The Huffington Post, site-blog de grande audiência, informa:
Queda também na Broadway.
Nove espetáculos vão baixar as cortinas antes da hora.
Mesmo com preços mais baixos, outros 4 shows saem de
cena nos próximos dias.
Obama acena com a esperança, mas vida, dura vida, segue.
Os Samaritanos de Nova York detectaram um aumento
de 16% nas chamadas para o serviço de
prevenção ao suicídio.
Em Miami, só nesse ano, mais de 500 ligações; basicamente dos
que perderam suas casas no lamaçal do sub-prime.
Na cidade-símbolo do prazer aos olhos de boa parte do mundo,
imagina-se que pelo menos um dos seus
serviços ainda está rijo, de prontidão.
Nem tanto assim, informam representantes
da mais antiga profissão do mundo.
Os relatos são de garotas que faturam
US$ 1 mil por noite, pelo menos.
Elas, estranhamente, dizem seguir a faturar.
Mas informam que a posição mudou.
Boa porção de clientes com muito dinheiro
não está mais à procura de sexo.
Eles querem palavras de apoio, conforto,
elevar a moral, escapar da depressão.
E assim muitas moças de Nova York estão mudando de profissão.
Apresentam-se como terapeutas corporais, mestras de Yoga,
discípulas de Buda…
Dez da manhã da quinta-feira 15 de janeiro de 2009.
Nas rádios, internet, nas bancas, segue o bombardeio
de informações sobre a posse de Barack Obama.
No noticiário da TV, o hino nacional ao fundo:
-…Deus Salve a América."
E eu acrescento: a do Sul, de preferência.
Quem sobreviver, verá.
Marco Angeli, janeiro de 2009, ano 3
Agora está feito, e não há como voltar atrás: Barack Obama foi colocado, democraticamente, no olho do furacão. E?
ResponderExcluirelisa
Nossa, quase uma profecia! O furacão Sandy só veio confirmar o que escreví em 2009 hahahahaha
ResponderExcluirelisa