sábado, 30 de maio de 2009

CAMPANHA DO AGASALHO 2009


Para todos nós, quentinhos dentro de casa ou em
qualquer outro lugar, vale lembrar que nem todos tem
a mesma sorte e conseguem ter acesso às condições mais
básicas para a vida.
Que deveriam, inclusive, ser um direito de todos.
Então, façamos o que deve ser feito e vamos ajudar.





O slogan, muito bacana, é quanto mais gente, mais quente.
Assim, divulgue, participe.
Clique no banner lá em cima e saiba como.

Marco Angeli, maio de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

JUAN J. BALZI E O IMPRESSIONISMO by Angeli


Na próxima quarta, o professor e artista plástico
Juan José Balzi lança seu livro "O Impressionismo"
em São Paulo.
Além de grande amigo, Balzi foi meu mestre em História da Arte,
curso que ministra em seu próprio atelie, em SP.
Artista respeitado em todo o mundo, e especialmente na Europa,
Balzi tem no Brasil o orgulho de ter participado da formação
de diversos artistas, com suas oficinas de arte e graffitti.
Entre eles o grafiteiro Tota, do grupo 5zonas, que participou comigo
do recente Forum de Arte de Barueri.
Não conheço nenhum mestre que fale com mais propriedade sobre
a História da Arte do que Balzi, especialmente sobre
o Impressionismo, que de certa forma é nossa matéria
preferida, pela sua força e toda a influencia que gerou
nas artes visuais. O Impressionismo teve seu início em 1872,
com a obra de Claude Monet, Impressão, Nascer do Sol,
e reuniu artistas do calibre de Auguste Renoir, Edoard Manet,
Edgar Degas
, entre outros, e influenciou até a música da época.



Para os que estudam ou simplesmente gostam de arte,
o livro de Balzi é essencial.

Marco Angeli, maio de 2009

domingo, 10 de maio de 2009

I FORUM DE ARTES VISUAIS, BARUERI by Angeli

Participei há dias do I Forum de Artes Visuais de Barueri.
A experiência foi inédita, já que raramente temos oportunidade
de assistir à um encontro de proffissionais tão diversos ligados
às artes visuais.
O start para o evento foi dado pelo grupo de artistas que compõe o
Núcleo de Artes Visuais da cidade de Barueri, e apoiado pela
Prefeitura e a Secretaria de Cultura e Turismo da região.

O Núcleo: da esquerda para a direita, Edgar Santo Moretti,
Maria José Ferreira, Noel Medrado Aguiar e Claudia de Melo.


O secretário da Cultura e Turismo, professor Getulio Fogaça de Azevedo
na abertura oficial do Forum


O conceito foi muito interessante, já que foram promovidos debates
abertos ao público (e com sua participação, inclusive) realizados por
figuras marcantes e conceituadas no mundo da arte no país,
o que acabou enriquecendo e muito o evento.

O palco do I Forum de Artes Visuais de Barueri

Presenças diversas como
a da Dra.Elaine da Graça de Paula Caramella,
crítica de arte e professora da PUC/SP,
Sérgio Miranda, do MAC, Museu de Arte Contemporânea,
que foi o mediador no primeiro dos dois debates,
Carla V.D. Gomes Marquart,
arte terapeuta que
atua no Instituto Sedes Sapiente,
Binho Ribeiro, artista do graffitti, o secretário
da Cultura e Turismo, Getúlio Fogaça de Azevedo, e outros,
enriqueceram o forum realizado com o público, composto por
estudantes, profissionais ligados às artes plásticas e artistas
de várias regiões do país.

No microfone, Ana Pirolo, galerista

Sergio Miranda, do MAC-Museu de Arte Contemporânea

Tota, do graffitti, no microfone: o ensino nas comunidades carentes

Houveram iniciativas interessantes, bacanas e inesperadas.
Uma delas a do Secretário em participar integralmente dos
dois dias de debates, já que sua participação não estava prevista
inicialmente dessa forma. E foi fundamental para o posicionamento
do governo da região em questões vitais como condições de ensino
e o papel das entidades públicas na formação e educação
de nossos estudantes, seja artística ou não.

Professor Getúlio, secretário de Cultura e Turismo de Barueri

Outra surpresa, que me preocupado no início, foi a da professora Elaine
em trazer um vídeo do artista Ernesto Neto para ser apresentado
como abertura do segundo dia de debates. Como fui o mediador
nesse segundo
dia e havíamos combinado
uma maneira diferente de se abrir o encontro -sem
qualquer apresentação- teríamos que encaixar o tema do vídeo,
que não havíamos visto, nos debates subsequentes.
O vídeo, uma caricatura de Ernesto sobre os artistas da
Arte Contemporânea, acabou se
revelando um ótimo tema para o início do debate.
Participei no primeiro dos eventos como debatedor
e no segundo como mediador.

Dra. Elaine da Graça de Paula Caramella, da PUC/SP

Edilson Caldeira, coordenador do Mapa Cultural Paulista e
Carla Fatio, artista plástica, no primeiro debate.


Professora Antonieta Tordino, presidente da
SINAPESP-AIAP


Acredito que para todos, como para mim, foi bem interessante
essa reunião
com outros artistas, outros profissionais focados em
arte e com posições diferentes em relação ao tema.
Ana Pirolo, dona de galeria em São José dos Campos,
por exemplo, falou claramente sobre o
funcionamento e a posição dos profissionais que estão
na ponta final do processo
da arte:
os que realizam a venda final do "produto" do artista.
Na outra ponta, a inicial, onde crianças de comunidades carentes
podem ou
não ser levadas a desenvolver os talentos que tem,
foram importantes as colocações
de Tota, grafiteiro, que tem uma grande experiência
justamente nessa área.

Tota, do graffitti, professor Getulio e Carla V.D. Gomes Marquart,
arte terapeuta do Instituto Sedes Sapiente


Auditório, segundo dia de debates

Eu e Binho, artista do graffitti: controvérsia divertida sobre
o macaco que pinta da Globo.


Professora Antonieta, na mostra

Carla Fatio e Noel Aguiar, no intervalo com
um dos artistas da região


Binho Ribeiro explica as diferenças entre pichação, graffitti e stencil

A ponta inicial, o ensino, foi um tema presente
constantemente nas discussões. A colocação clara do
secretário da Cultura, professor Getúlio, sobre a condição
econômica da região de Barueri, que a situa como economia
de primeiro mundo, e seus consequentes desdobramentos na
àrea de educação e assistência às comunidades mais pobres,
o que é sabidamente verdadeiro, foi significativo, já que
toda a história moderna da civilização nos mostra que
a situação econômica de uma região sempre teve seu
"termômetro" no desenvolvimento das artes. Economias
saudáveis sempre favoreceram o florescimento da arte.
Assim foi em Roma, em seus tempos áureos, na Grécia,
e mais recentemente nos EUA.

Edilson Caldeira: tem que dar duro para ser artista

A mostra, no saguão do Teatro Municipal

Sergio Miranda, professora Elaine e eu no segundo dia de debates

Ponto polêmico levantado pela professora Elaine foi a questão
da efemeridade das obras de arte contemporâneas, à
exemplo das instalações da Bienal, que práticamente
desaparecem no final de suas mostras.
Quando se falava sobre o suporte usado pelos artistas
em sua produção, a professora colocou em pauta
um exemplo de criatividade para a colocação do
trabalho do artista, no caso Oliviero Toscani, fotógrafo
italiano que se notabilizou e marcou definitivamente a
história da fotografia mundial com suas imagens para
a campanha publicitária da Bennetton.
Seriam apenas imagens fotográficamente lindas e
impecáveis se Toscani não tivesse usado o suporte
da mídia para passar uma mensagem sua, única,
sempre anti-racista, ecológica e feminista.

As escolas, presentes no Forum

O violão de Antonio Sanguinetti, no intervalo do segundo dia.
No primeiro dia, o coffee break teve a
presença dos músicos
JC Ford, Noel Medrado e
Jorge Albuquerque


Seria trágico se não fosse comico: uma combinação
de chão liso demais com cadeira com rodinhas demais
e eu quase fui para o chão se
não fosse a esperteza do Noel.

Unânime o consenso entre nós sobre as palavras
sábias da professora Antonieta Tordino, presidente da
SINAPESP-AIAP, que afirmou que arte não existe e
não sobrevive sem a presença da alma do artista nela,
o que foi enfatizado por Carla Fatio, artista plástica
e assessora institucional da Abaçaí Cultura e Arte.

A mostra e as crianças

Além da alma, Edilson Caldeira, coordenador do Mapa
Cultural Paulista, lembrou muito oportunamente que artistas
só se fazem com muito trabalho árduo e perseverança.
Uma verdade incontestável que faz parte de todos nós.
Carla Marquart comentou os métodos da arte terapia
e seus benefícios óbvios para portadores de distúrbios
psicólógicos. Lembrei a todos que a arte terapia é apoiada
atualmente e usada frequentemente por muitos psicólogos, à
exemplo do consagrado Augusto Cury, autor de
O Vendedor de Sonhos, best seller no Brasil.

Totta e o pessoal da região: intervalo

Totta, Ana e Carla Marquart, ocupações distintas no mundo da arte
No primeiro dia dos debates, sentei ao lado do Binho,
e notei que ele rabiscava e rabiscava num bloquinho.
No intervalo, descobri o que ele desenhava...e, claro,
achei bem bacana. Vou guardar como lembrança desse
forum, e estamos planejando um trabalho conjunto, vamos ver.

O desenho de Binho, bem bacana

Como eu disse ao final do segundo debate, foi realmente
um prazer e uma experiência gratificante
participar desse grupo ilustre, e se convidado
estaremos com certeza novamente juntos no próximo.

Myself, como mediador, experiência bacana.
Vivendo e aprendendo, como dizia vovó Angeli.


Devo agradecer aos amigos do
Nucleo de Artes Visuais da Secretaria de Cultura e Turismo
de Barueri pelo convite e
pela gentileza e profissionalismo com que fomos todos tratados.
A iniciativa da comissão organizadora do evento,
do Edgar, da Majo, do Noel e da Cláudia é
realmente louvável e mostra seu empenho no desenvolvimento
e fomento da arte na região.
Um abraço à todos e...lembro a Claudinha que espero
seu texto para colocarmos suas esculturas aqui no blog.

A mostra dos trabalhos dos artistas da região vai até 15 de maio,
no Teatro Municipal de Barueri.
O endereço é Rua Ministro Raphael de Barros Monteiro, 255.
O fone para informações é 4198.0972

Marco Angeli, maio de 2009

sexta-feira, 8 de maio de 2009

CLAUDIO CANATO E A ARTE by Marco Angeli

Há alguns anos participei de uma mostra coletiva no
extinto -infelizmente- espaço Cultural Blue Life,
em São Paulo, juntamente com alguns artistas expressivos,
entre eles Taumaturgo Ferreira, que também pintou
a cidade como eu.
Um dos trabalhos dessa mostra me impressionou
especialmente, tanto pela técnica quanto pela temática.
Era uma das pinturas de Canato para sua série
"Pessoas à Margem", uma tela grande, à óleo,
pintada com um esmêro absoluto, retratando
cruel e poéticamente uma realidade nossa e cotidiana.

Massacre dos Inocentes, 100 x 120 cm, óleo sobre canvas

Fumando Bituca, 70 x 100 cm, óleo sobre canvas

Detalhe

Parei diante da tela de Canato e pensei em quantas
vezes estive tentado a pintar essa mesma
realidade e não o fiz. E, de certa forma, foi uma
satisfação ver o tema pintado ali
com tanta maestria, de uma forma tão séria.

Comendo Lixo, 100 x 100 cm, óleo sobre canvas

Detalhe

Há dias recebi uma entrevista em que Canato
fala sobre a arte no blog Diversos Afins,
de Fabrício Brandão e Leila Andrade.
Achei muito interessantes e pertinentes algumas
das observações de Canato, principalmente
sobre a educação artística no Brasil e
os caminhos da arte por aqui.
Canato tem a ousadia de declarar que seu
trabalho se baseia nos artistas
renascentistas como Botticelli, Caravaggio,
Ticiano e mesmo Rembrandt.
Essa declaração seria, óbviamente, uma temeridade
vindo de qualquer artista, uma responsabilidade
gigantesca, fácilmente confundida com uma pretensão
descabida, sonhadora. Já vi isso acontecer, e
muitas vezes.

Madona Negra, 60 x 70 cm, óleo sobre canvas

Canato, Auto Retrato

Madalena, óleo sobre canvas

No entanto, nas mãos de Canato, suas obras -executadas
com talento e com uma seriedade
absoluta em relação à essa proposta- cumprem
e mesmo transcendem os mestres que a
influenciaram, sem a menor dúvida.

O Estado de São Paulo, 100 x 100 cm, óleo sobre canvas

Pedi ao Canato para reproduzir alguns trechos
da entrevista de Diversos Afins, feita por
Fabrício Brandão:

"(...)Utilizando-se de temas que permeiam aspectos sociais
e simbólicos, a obra de Canato se agiganta
quando os olhares se voltam para as nuances humanas
expostas nas mais variadas expressões de suas telas.
Ali, cada forma, tom ou gesto refletem um pouco das densidades
tão presentes no espírito dos homens.
Conversando conosco, Canato fala um pouco sobre seu
processo criativo e influências, os rumos da arte contemporânea
e alguns outros assuntos que o posicionam como um artista
definitivamente engajado com as questões de seu tempo.
"

DA - Sua arte, sobretudo através dos recortes humanos,
reflete um experimentar de sensações que percorrem
tons existencialistas. Que tipo de desejo orienta esse seu olhar?


CANATO - O desejo de ser uma pessoa melhor
e de tentar fazer do mundo um mundo mais humano,
mais justo e, se possível, mais belo.
Através desses recortes, vejo a mim mesmo multifacetado.
Tento entender melhor quem sou, principalmente no
que posso me transformar e, dessa forma, contribuir
como artista e como ser humano.
Acho que essa é uma maneira de ser e existir,
de experimentar e absorver o mundo, sofrer e viver de forma
intensa o real. Viver é uma estética.
Sem essa experiência o artista não cria de verdade.
É preciso intensidade e muita entrega para entender
o mundo e poder interpretá-lo, traduzi-lo, pintá-lo e transcendê-lo.

Claudio Canato, ateliê

DA - A estética Barroca e Renascentista que atravessa
a sua obra enaltece o propósito de representar
as expressões humanas com mais vivacidade e precisão.
A opção por tais escolas sempre fez parte de seu trabalho?


CANATO - (...)O Barroco talvez seja a escola que mais me
fascina, mas a Renascença foi “o grande momento” da arte.
Meus trabalhos devem muito a Botticelli, Ticiano, Caravaggio
Rembrandt e a todos que trago dentro de mim.
Sem a ajuda deles eu não teria conseguido certos
avanços técnicos. Essas foram influências escolhidas a dedo,
mas sempre com a preocupação de ser eu mesmo.
Sou da pintura e, definitivamente, um artista da figura.
Posso dizer que não foi simples chegar até aqui.
Não é tarefa fácil, hoje em dia, trilhar tais caminhos, mas é
o que gosto de fazer e o que tenho
de mais verdadeiro dentro de mim.
O importante é fazer o que se acredita.
Não vejo necessidade de romper com nada, nem abandonar nada
para ser novo, seja suporte, seja técnica, e, principalmente,
o que se acredita.
Basta ser você mesmo, isso só já faz de um trabalho único.
O importante é produzir de forma honesta
e o mais sincera possível. E produzir com amor, isso é essencial.

As Éguas de Diomedes, da série Os Doze Trabalhos de Hércules.

DA - Certa feita você assinalou que havia muita falta
de preparo por parte de gente que se propõe a ensinar arte,
aspecto que muitas vezes chega a limitar em demasia a
criatividade dos aprendizes. Isso ainda é muito frequente?


CANATO - Infelizmente, assistimos hoje a uma total
banalização das coisas, dos valores, e o ensino não
ficou livre desse fenômeno.
A crise do ensino se reflete diretamente na crise atual da arte.
Embora haja uma preocupação cada vez maior com
a educação, não se pode dizer que o que se ensina,
na maioria das escolas, seja arte, com raríssimas exceções.
O ensino de arte foi reduzido a meros trabalhos
de “dia dos pais”. Muita coisa precisa ser mudada.
Embora muitas pessoas bem intencionadas e preparadas
estejam conseguindo realizar seus projetos,
ainda há muito por fazer.
Gosto da ideia de ensino multidisciplinar com a arte
permeando todas as outras matérias, o que tornaria o
aprendizado mais significativo e menos mecânico.
O professor assumiria o papel de gerenciador
de capacidades e de estimulador de talentos.
(...) Sonho em ver a arte presente na vida das pessoas
não como entretenimento e passatempo, mas integrada
à própria vida, e as pessoas, de fato, fazendo
um uso mais consciente dela. Talvez aí o mundo melhore.

O Touro de Creta, da série Os Doze Trabalhos de Hércules.

DA- Ainda há a questão de que criatividade e
domínio técnico nem sempre fazem par constante...

CANATO -
Em decorrência da deficiência do ensino,
é cada vez mais raro encontrar um artista mestre
de seu ofício, que domine de fato alguma técnica.
Bons pintores estão quase em extinção.
Hoje o fazer artístico não requer prática nem habilidade,
a produção é efêmera e, na maioria das vezes,
está em segundo plano,
mais vale uma boa rede de relacionamentos.
A produção é cada vez mais submissa a discursos
muito bem “elaborados”, que mascaram um conteúdo
inexistente ou, propositadamente, tornam-no inatingível.
Dessa maneira, a criatividade é desperdiçada em elucubrações
cada vez mais distantes de nossa realidade,
a obra se esvaziou e, como consequência, o público se afastou.(...)

Os Pomos de Ouro das Hespérides, da série
Os Doze Trabalhos de Hércules.


DA - Há um viés social muito forte
na sua série Pessoas à Margem.
Acredita que a arte pode atenuar certos incômodos
tão nossos?

CANATO - A arte não só pode atenuar esses incômodos
como pode transformá-los.
Leonardo dizia que “O belo toca o coração...” e acho que,
de forma irreversível, as pessoas se transformam
através da arte e cabe a elas transformar o mundo.
A série Pessoas à Margem foi extremamente importante
no meu processo de crescimento como artista
e como ser humano. Tive oportunidade de conhecer pessoas
e ter contato com realidades totalmente diferentes da minha,
que me fizeram questionar tudo e querer mudar tudo.

A Corça de Cerínia, da série Os Doze Trabalhos de Hércules.

DA -
Como você percebe a questão da sobrevivência da aura
do objeto artístico face a um mundo tão
cheio de ruídos e distorções interpretativas?

CANATO - (...) A obra verdadeira é independente,
autônoma e atemporal.
A arte pura nunca morre, o objeto artístico nasce eterno
e pode até, num primeiro momento, ser desprezado
e restar esquecido por séculos em algum porão,
mas, quando vem à luz, é por todos reconhecido e reverenciado.
Tenho uma teoria: a medida do gênio de um artista está
diretamente relacionada ao tempo que sua obra
leva para ser entendida e aceita.
Se um trabalho leva cinquenta anos para ser compreendido,
o artista estava cinquenta anos à frente do seu tempo.

O Cinturão de Hipólita, da série Os Doze Trabalhos de Hércules.

O Javali de Eriamanto, da série Os Doze Trabalhos de Hércules.

DA - Corremos sérios riscos atribuindo valores
a tudo o que se apresenta nessa enxurrada?

CANATO - (...) A resposta a essa pergunta é sim,(...)
Há alguns anos, uma matéria do Arnaldo Jabor dizia
que “a arte contemporânea se encontrava num beco sem saída”.
Segundo Affonso Romano de Sant’Anna,
vivemos hoje o que ele chama de “Anomia Ética e Estética”,
as artes moderna e contemporânea devem ser reavaliadas.
São pensamentos que devem ser levados a sério,
pois muito do que hoje se produz “artísticamente”
é lixo e passa despercebido nessa enxurrada.

A Hidra de Lerna, da série Os Doze Trabalhos de Hércules.

As Aves do Lago Estínfalo, da série Os Doze Trabalhos de Hércules.

DA - A série Os Doze Trabalhos de Hércules
marca um momento muito especial em seu trabalho,
equilibrando os contornos vivos de formas e expressões
das personagens com uma valiosa pesquisa histórica.
O que mais o motivou
a recriar esse verdadeiro ícone mitológico?

CANATO - De fato, é um bom momento,
momento de muita segurança.
Pela primeira vez, sinto-me no domínio pleno do meu trabalho,
livre para criar. Não quero dizer que tenha chegado ao auge,
mas acredito que minha produção mais verdadeira começa agora.
Trabalho nessa série há pelo menos dez anos.
Sou apaixonado por mitologia e principalmente por simbologia
e os Trabalhos de Hércules me fascinam desde pequeno.
Lembro que meu primeiro contato com
o herói foi nos livros de Monteiro Lobato.
Esse é um mito fascinante e recriá-lo foi como desconstruir
a mim mesmo, e o mais interessante foi descobrir
que somos todos heróis em potencial.

A Busca do Cão Cérbero, da série Os Doze Trabalhos de Hércules.

DA - “A Pintura é o retrato dos mais belos sonhos da Poesia”.
O quanto esse pensamento ajuda a dimensionar seus olhares?

CANATO - O poeta trabalha imagens da mesma forma que o pintor.
As duas artes são muito íntimas e o diálogo
entre elas é muito rico.
O artista lê o mundo através do que eu chamo de “códigos do belo”.
Esse é um olhar diferenciado, que vê beleza em tudo
e tudo através da beleza.
Arrisco até a dizer que nós, pintores,
também somos poetas, poetas da cor.

Esboço de Canato

De minha parte, é mesmo uma satisfação saber e poder
registrar que existem artistas como Claudio Canato -raros- executando
seu trabalho com seriedade, postura e
esse talento todo.
Bom que seja assim, ou estaríamos soterrados por todo
esse lixo que a mídia, principalmente, despeja o tempo todo
sobre nossas cabeças, à exemplo do macaco que pinta
da rede Globo. Típico como sempre.
Ainda bem que eles ainda não descobriram o pequinês
ou a égua que pinta, nos EUA.
Ou um maluco, na Inglaterra, que pinta celebridades
com o próprio instrumento, ou seja, o pinto.

Em tempo: participei do Forum de Artes Visuais de Barueri,
em São Paulo, nos debates com o público e como
mediador, em São Paulo.
Foi uma iniciativa inédita da Secretaria da Cultura, muito interessante.
Aguardo apenas o material para colocar aqui no blog.

Marco Angeli, maio de 2009