sexta-feira, 26 de outubro de 2007

BRUNO SANTANNA, THE BLUES by Marco Angeli

A long time ago, eu finalmente havia conseguido sair de São Paulo
e curtia meu studio no meio do mato, longe daquela
barulheira, daquele trânsito, e dos assaltos...
Mas de repente, bem debaixo da janela onde eu pintava, feliz,
passava um moleque (chamar o Brunão de moleque, mesmo naquela
época, quando ele tinha uns 12, 13 anos, já era não ter a menor
noção da realidade) com uma motinho preta.
A pobrezinha dava a impressão de jamais ter tido escapamento
um dia e sofria debaixo daquele grandão encarapitado em cima
dela, concentrado em fazer com que ela atingisse uma
velocidade que acabaria por fazer com que explodisse...
Ele não parava nunca, ia e vinha como se o mundo dependesse
disso, e eu nunca soube - e acho que ninguém mais -
pra onde ele ia ou de onde vinha...e porque...
O tempo passou e eu ia escutando histórias do Brunão...
Que ele começava a cantar, que tava bacana...

Brunão and the blues, paixão antiga

Das brigas dos amigos adolescentes que ele apartava...
E pode acreditar...uma briga apartada pelo Brunão parava mesmo!
Anos depois, perto de 2000, ele preparava com sua
banda, Blindog, seu primeiro disco,
com composições suas...mas a gente não se conhecia,
práticamente...eu era o artista plástico cheio de histórias
que ele via de longe e ele o molequinho da motinho preta.
Uma noite, num bar de São Paulo -o Piola, se não me engano-
a gente finalmente estava na mesma mesa com o André Bertazzi,
meu assistente e amigo dele.
Ele ficou horas em silêncio, eu estava particularmente
inspirado naquela noite, e ria, gesticulava como todo
bom italiano, e contava pra todo mundo aquela história
da motinho preta debaixo da janela do meu studio...
Ele observava, observava e finalmente, madruga já,
me veio com uma frase nos transformou, imediatamente,
em velhos amigos:
-Esta noite conheci o verdadeiro Marcão!!!!
De amigo virei seu fã quando escutei o piloto de seu
primeiro CD, que estava sendo elaborado.
Em 2000, desenhei a capa do CD e o logo da banda.

Sampa Midnight, de 2000, com composições do
próprio Bruno Santanna. Pérola.

Aquele CD foi uma produção totalmente
underground e independente. E por isso foi muito bacana,
a gente se divertiu criando aquela capa,
procurando um pitbull bonitão pra fotografar,
tentando colocar uma imagem da cidade vista pelos
olhos do cara que volta pra casa as 5 da matina,
e que já bebeu todas...e já não sabe mais o que
é o amor...ou onde está...



Sete anos depois, no Garimpo, em Embu das Artes. Summertime.

Bruno, hoje, trabalha como produtor de cinema.
Mas a paixão pela música não acaba, é claro.
E está terminando de produzir outro CD.
Estarei aqui, of course, pra desenhar a capa...

2007, Bourbon Street, tributo Ford Blues Band

Acabo de receber...heheheh...um comentário do Brunão
sobre este post que acho pertinente e reproduzo aqui:

Orra véio Adorei ! muito obrigado brother!
Mas só tem uma coisa rsrs
Quanto a motocicleta rsrs, vê lá como fala kkkk
ela era uma RX 80 transformada em 125 cc
que passava a maior parte do tempo
com uma roda só na pista rsrsrsrsrkkkkkkkkkk!!!!


Marco Angeli, outubro de 2007

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

CAPITÃO NASCIMENTO by Marco Angeli

Sem comentários, essa não deu pra resistir!

Por falar nisso, aquele funk da abertura do Bope é bem bacana!!!

outubro, 2007

domingo, 21 de outubro de 2007

NORMA ANGELI, 80 ANOS by Marco Angeli

Talvez esta seja a postagem mais significativa, mais
coerente com o conceito que eu quis dar à este blog quando
imaginava crônicas que contassem histórias, histórias que
contavam a vida das pessoas. Retratos da vida.
Esta é a história de uma vida. A de Norma Angeli,
que se mistura com o surgimento da publicidade como a
conhecemos em São Paulo, com a fundação da Editora Abril
e com a minha própria carreira profissional.
Norma é minha tia. Mas antes de ser minha tia é um personagem
com uma carreira profissional importante, impecável.
Norma nasceu no dia 17 de setembro de 1927.
Este texto é escrito hoje, quando ela completa exatos 80 anos.

Norma, retrato em papel Fabriano, aquarela, 50x60 cm. Presente.

Em 1950, fez alguns cursos técnicos e começou a trabalhar
como secretária. Era uma mulher bonita, inteligente, falante.
Usava luvinhas brancas para ir trabalhar, como uma artista de cinema.
E, principalmente, com uma personalidade forte, o que faria
toda a diferença nos anos seguintes.
Tinha o hábito de ler, lia de Sartre a Machado de Assis,
adorava cinema, teatro, cultura. Costume que a acompanhou
por toda a vida.
Durante sete anos trabalhou como secretária em
diversas companhias
de seguros, como a Minas Brasil, Internacional de Seguros
e Boa Vista. Perto de 1957 começa o trabalho que
marcaria sua carreira, entrando na Editora
Brasil Gráfico como correspondente, secretária e
revisora, ao lado de Juliano Pozzi e Jerônimo Monteiro,
jornalista da Folha de São Paulo.

Em 1957, convidada por Terezinha Monteiro, faz um teste especialmente severo para trabalhar numa agência de
propaganda que mais tarde faria parte da então embrionária
editora Abril.
A agência era a Publicitária Paulista e o teste foi
feito com o rigoroso professor Arno, na Faculdade
de Filosofia de São Paulo. Passou e começou a trabalhar secretariando
o diretor da empresa, Paulo Paulista de Piratininga.
De 1957 à 1962 as coisas mudavam com rapidez.
A agência fechou, e Norma passou à secretária de
Luis Carta- irmão de Mino Carta- filhos do correspondente
internacional do jornal Estado de São Paulo.
Nesse momento surgia o embrião, com Victor Civita,
de uma nova editora, a Abril, em cinco andares
da Rua João Adolfo 118, esquina com a 9 de Julho,
em São Paulo.
Norma participava do novo projeto, chefiado pelo
Dr. Castro e Dr. Byrde, que haviam estudado engenharia
com Robert Civita nos Estados Unidos.
Trabalhando definitivamente com os Carta, ela
participava dos projetos das novas revistas da editora,
dirigida por Mino Carta. Eram os estudos para os
lançamentos de Cláudia, Quatro Rodas e Nova.
Na época não existia o departamento de tráfego, que
mais tarde faria parte de toda agência de
progaganda ou editora. O Tráfego seria, na prática,
a alma do fluxo de material dessas empresas, no futuro.

A editora crescia, e Norma foi chamada pelos
diretores administrativos, entre eles o
Dr. Giordano Rossi. Eles viam a necessidade de criar o
departamento na Editora, a ela era a
pessoa indicada para a coordenação e chefia.
À partir daí ela implanta e comanda o tráfego na Abril,
na época com alguns assistentes e 15 boys.
Em 1961, Victor Civita fica doente e vai fazer um
tratamento na Europa. Robert Civita, que poderia
substituí-lo, estava prestes a se casar e ir para a
Argentina. Mauro Mayer vem então às pressas do
Rio de Janeiro para substituir Victor Civita
temporáriamente. A Editora passa por um período
conturbado, e em 1 de novembro de 1962 Norma deixa a
empresa. Vai trabalhar imediatamente
na General Advertising, agência de publicidade recém formada
por três ex funcionários da
JW Thompson, José Martinez Zaragoza,
-mais tarde o Z da DPZ- Candido Mota Neto e José de Almeida.
Na General Norma assume outro departamento- numa
função quase inusitada para mulheres- a Mídia.
Existiam apenas outras duas mulheres em São Paulo
que tinham o mesmo cargo- Soninha, da Alcantara Machado,
e Arlete, da JS de Melo propaganda.
As três acabam sendo matéria da Gazeta, em entrevistas
sobre sua profissão e carreira, numa reportagem expressiva.
Norma permanece na General por três anos e meio.
No início de 1965 é convidada por um investidor,
Walter Mangione Nahas, para organizar e estabelecer uma
nova agência de publicidade, a Mundial Propaganda.

Na Mundial minha história e a da Norma se cruzam.
Eu tinha pouco mais de 15 anos e estudava pintura com o
artista plástico italiano Dante Embrione.
Norma conseguiu um estágio para mim, como
assistente de arte. A agência ficava no centro de São Paulo,
na rua Marconi, e eu adorava ir pra lá todas as tardes, de onibus.
Nessa época a agência tinha como principais clientes a Companhia
Terras do Morumbi e os Supermercados PegPag.

Os produtos do supermercado em promoção eram anunciados
nos jornais em anúncios de página inteira, e ilustrados
um a um, num processo chamado de foto-traço,
onde as ilustras eram feitas á nankim sobre papel Schoeller.
Fiquei maravilhado por aquilo tudo e tive minha primeira
ilustração publicada, um sabonete ou uma caixa de sabão em pó.

Em 1969 a Mundial fecha e Norma é convidada por
Paulina Kaz-que havia sido a coordenadora da campanha política e
assessora de Juscelino Kubistchek- para dirigir algumas publicações
da CAC, Companhia Agrícola de Cotia.
A principal publicação era Mundo Econômico,
dirigida então por Delfim Neto, que seria ministro no futuro.
Na sequência vai para a Editora Vecchi dirigir o
Departamento Comercial. A Vecchi era uma importante
editora da época, e publicava a revista Grand Hotel, que marcou
época...além de fotonovelas, e as revistas Figurino Moderno e
Figurino Noivas...

Lembro bem daquela época, todos os meses ela aparecia com
pilhas de revistas que distribuía para os amigos, parentes...
Eu curtia especialmente as fotonovelas, uma espécie de HQ
romântica com fotos, totalmente piradas, que tinham sempre
um final feliz e idiota. Acho que foram as precursoras das
telenovelas....Com pequenas variações, a mesma
porcaria que a Globo produz hoje...

Em 1972 Norma sai da Vecchi e vai dirigir o Departamento
Comercial da Editora Noticiário da Moda, de
Mario Ernesto Humberg. Além de Noticiário da Moda, eram
editadas Brazilian Shoes e Brazilian Fashion, para o mercado exterior. Na editora-além do departamento comercial-dirigia,
junto com Maria Helena Castilho, a produção, eventos e fotografia.

Nesse momento, nossas histórias novamente se cruzam,
dessa vez de forma definitiva para mim.
No final de 1973 eu trabalhava no ateliê do artista plástico
Fukuda, afilhado de Manabu Mabe. Começava a ter contato com
a arte japonesa, especialmente Tomie Otaka e seus abstratos.
Que eu adorava, e procurava compreender.
Havia trabalhado anteriormente com o ilustrador inglês
Nairo Lambert Watson e minha experiência estava centrada
quase que exclusivamente em arte.
A oportunidade que Norma me ofereceu então foi perfeita,
a de ser assistente do Lito, então diretor de Arte
das publicações da editora.
Foi uma experiência inesquecível.
Trabalhávamos numa casa fantástica na rua Candido Espinheira,
no Pacaembu, cheia de jaboticabeiras.
Eram uns quinze assistentes de arte num único salão, pranchetas
pra todo lado. Era uma zona, literalmente.
Eu desenhava caricaturas de todo mundo, e todos os dias
tinha uma balada qualquer, de segunda a segunda..
Não existia computador, na época, e as revistas eram feitas
literalmente à mão, coladas e pestapadas. Trabalhávamos no
meio de toneladas de papel, cola, sempre correndo contra o
tempo, como malucos, e felizes o tempo todo.
No início de 1975, a Editora Abril, interessada nas publicações,
comprou a editora de Mario Ernesto, e a festa acabou.
Mas as pessoas que conheci naquele salão, como Creston Portilho,
Leonel Kaz, Lito-com seu cabelo enorme sempre amarrado num coque- como se fosse o último dos samurais, a Verona...
estarão sempre com suas imagens gravadas em minha memória.

Norma trabalhou na editora até 1975, quando a Editora Abril
assumiu e, num remanejamento de pessoal, demitiu quase todos
os funcionários antigos.
Eu permaneci- agora trabalhando na editora Abril- e substituí
o Lito na direção de arte. Noticiário da Moda foi reformulada
totalmente sob a direção de Thomaz Souto Corrêa.
Criei um novo projeto de diagramação e redesenhei o logo,
numa versão mais clean, mais profissional.
Trabalhava com o Trípoli, Fernando Louza, Chico Aragão, Miro,
os melhores fotógrafos de São Paulo...
Essa experiência foi fundamental na minha própria vida
profissional, e durou quase três anos.
Em 1977 saí da Abril com mais dois colegas de trabalho,
o diretor comercial e um dos produtores, para montar nossa
própria agência de propaganda, voltada exclusivamente para
o mercado de moda. Foi a Lapix de Propaganda.
Durante alguns anos atendemos clientes como Trevira,
da Hoechst, Zoomp, Triton, Forum, Vila Romana, Ellus,
entre muitos.
Conversando com o Renato Kherlakian há tempos, lembramos
que o primeiro anúncio da Zoomp, em 1978,
foi criado por mim na Lapix. Bacana.

Noticiário, edição 199, de março de 1976: reformulada.

O expediente de 1976, onde a Abril insistia em chamar
o diretor de arte de 'chefe de arte'. Coisa de tribo, talvez...

Matéria, janeiro de 1976. Fotografada por Miro

Da época anterior à compra de Noticiário, Norma tem muitas
historias engraçadas. Histórias de assédio de diretores que
faziam com que ela tivesse pesadelos à noite, por exemplo, e
que não podem ser publicadas por razões óbvias.
Uma de suas histórias dessa época aconteceu com sua então
parceira Maria Helena Castilho, grande amiga e
colega de trabalho. Juntas, ela e Norma viajavam
constantemente para eventos, convenções...ou simplesmente para
a produção de matérias para essas revistas.
Numa dessas ocasiões, Maria Helena foi para o Rio de Janeiro
para cobrir um evento. Norma, com trabalho atrasado, ficou
na redação em São Paulo e seguiria para o Rio depois.
Algumas horas antes de seu vôo recebeu a notícia de que um
grande amigo das duas- dono de uma confecção que participava
desse mesmo evento- havia falecido insperadamente devido
à um ataque cardíaco.
Triste, ela embarca para o Rio em cima da hora, e chega
práticamente na abertura do evento.
Conta para sua parceira, recomendando discrição, o
acontecido com o amigo, que óbviamente não estaria presente.
Em alguns minutos o pessoal todo do evento- onde o falecido
era muito querido-já sabia de sua morte e o constrangimento
era geral...o tempo vai passando, e uma hora depois,
no meio do discurso de um dos participantes, entra pela
porta principal, atrasado...nada menos do que o morto.
O susto é geral e descobre-se, finalmente, que quem havia
realmente falecido era outra pessoa do ramo com nome parecido.
Norma conta rindo que o 'morto' ficou uns bons anos
sem falar sequer com ela por causa dessa história...
Maria Helena Castilho, a faladeira, é também uma personagem
linda, inesquecível. Nos tornamos amigos e alguns anos depois
ela desiste das editoras e no retorno de uma de suas viagens
à França, traz uma idéia completamente futurista e monta na
Bela Vista o Carbono 14, espécie de bar, boate e espaço cultural,
com quatro ou cinco andares, cheio de pinturas, esculturas,
histórias em quadrinhos e muita, muita música.
Foi fantástico, reunia sempre os artistas de vanguarda desses
anos...e como tudo que é bom, durou pouco...
Fechou em alguns meses.

Do Noticiário da Moda Norma foi para a Editora Avicultura
Brasileira, de Laurison Von Schmidt e Carlos Sodré Cardoso.
Como gerente geral, criou a publicação Avicultura Brasileira,
entre outras, e cuidou do contato comercial, atendendo
clientes como a Dow Chemical e laboratórios Roche.
Finalmente, seu último emprego oficial foi na William Editora,
como gerente geral. Desenhei nessa época para ela o logo
da Editora.
Em 1984 se aposentou e foi para os Estados Unidos e Canadá.

Não vejo diferença alguma hoje no espírito daquela tia Norma
que me ajudou quando eu tinha 16 anos e começava a
desenhar. A mesma risada franca, espalhafatosa, o mesmo
baton vermelho, a mesma vaidade, imortal.
O mesmo senso crítico agudo de sempre, voltado com
humor para tudo e todos...que não pertençam à família Angeli, claro.
Ela me diz que guarda, de todos esses anos de trabalho,
um orgulho grande por ter participado e quase sempre
ter seu trabalho reconhecido...
Conviveu profissionalmente e como amiga da maior parte de
seus colegas de trabalho, de pessoas como
Alex Periscinotto, da Alcantara Machado, de
Nizan Guanaes, na época da PA Nascimento, de Attilio Baschera,
o estilista...de muitos, muitos outros...
E o visível, em todas as suas conversas, suas histórias,
é o amor verdadeiro que teve por cada um deles,
por seu trabalho, ressaltando sempre e sempre as coisas
boas que aconteceram e rindo dos erros que ela ou eles
cometiam pelo caminho...

Norma, no dia de seu aniversário de 80 anos, no centro.
Angeli, o cartunista, eu mesmo, Milton, Rosana, Mariangela: sobrinhos.
A foto é de Tchuka Ferraz, me ajudando como sempre.

Hoje, ela escreve à mão a história da família desde sua
origem na Itália. Escrever, contar histórias...um trabalho
feito sob medida pra quem, como ela, leu a vida toda,
sem parar...
E que tem a sua própria história incluída aí, no livro da vida
desses italianos todos...incluída com mérito,
um mérito todo seu, todo especial...escrito durante
todos esses anos...

Marco Angeli, outubro de 2007

domingo, 7 de outubro de 2007

RETRATOS by Leda Xavier

Eu sempre fixei meu olhar às imagens,
objetos, situações, espaço físico e às pessoas.
E quando encontrava esses momentos,
tentava memorizá-los com suas dimensões,
traços e cores na intenção de concretizá-las de algumas forma.
Então percebi que na fotografia era possível reter um momento único
através da minha perspectiva.




Há mais de três anos comecei a fotografar com meu aparelho celular.
A princípio, treinei com minha própria figura usando um espelho.
para dimensionar a imagem e assim capturar a foto.
Depois comecei a fotografar outras pessoas; é interessante o desejo
incontrolável que sinto quando vejo uma cena,
um rosto perfeito e preciso paralisar aquele
instante e registrá-lo com minha câmera.





O meu jeito de olhar as coisas com carinho e esperança
torna minhas fotos mais atraentes à quem vê.
A fotografia me inspirou tanto que fiz alguns versos
sobre essa minha paixão:


Um instante e se eterniza um sorriso!
E não é preciso muito a princípio:
Uma simples câmera faz à mágica!
E transforma tudo em luz e sonho...
Hipnotiza intriga, revela algo mais íntimo do ser.
É um novo olhar para o mundo!
É arte que inibe, extravasa que se rebela e que se revela...

Leda Xavier


Eu conversava com um amigo, meses atrás, no balcão de uma
Lan House e notei algumas fotos sendo abertas na
tela da atendente...elas me chamaram a atenção imediatamente,
pela modelo, pela luz, pela composição...
Perguntei quem era o fotógrafo e acabei descobrindo que
as fotos eram da própria modelo, auto retratos.
Que por acaso estava por alí mesmo, aguardando as
fotos, que eram descarregadas de seu celular.
Uma surpresa, pela qualidade delas eu havia imaginado
que ela havia fotografado com uma camera, e não
com um celular...
Foi assim que acabei conhecendo Leda Xavier e seus
retratos e redescobrindo que talento realmente
independe de grandes técnicas e grandes aparatos
técnicos...basta ter o fascínio e o talento que algumas pessoas tem
em retratar o mundo e as pessoas à sua volta...alguns o fazem
com palavras, outros com imagens...
Que é exatamente o caso de Leda.
Quem viver verá.

Marco Angeli, outubro de 2007

terça-feira, 2 de outubro de 2007

PAULISTA, 29 DE SETEMBRO by Marco Angeli

Sábado, tarde fria, 29 de setembro.
Curioso pra ver no que daria a manifestação prevista para aquele
dia pelo pessoal da net, fui até lá fotografar.
Eram menos participantes do que eu imaginava, organizados,
uma barulheira...afinal, era parte da Grande Vaia.

Fui fotografar, registrar aquele movimento estranho de pessoas
de classe média, a mesma classe média históricamente
calada, colocada sempre à parte de qualquer
movimento ou manifestação política. Afinal, há quantos
e quantos anos não se vê qualquer tipo de movimentação
ou reinvidicação partindo dela? Não me lembro, se é que houveram...

Mas lembro- e muito bem, desde os tempos da ditadura- dos
partidos políticos, especialmente o PT, colocando milhares de pessoas
nas ruas, que, à exemplo das Diretas Já em São Paulo,
queriam uma sociedade mais justa, onde a democracia pudesse
ser exercida em sua totalidade...
Estudante, eu participava ativamente dessa batalha pela
liberdade e finalmente ela aconteceu, quando a ditadura, tardiamente,
se foi...e de lá prá cá, um longo caminho...
Hoje, sem poder crer no que vejo, constato o processo lento
de emburrecimento e atraso que ocorreu nesse caminho,
nesses anos...emburrecimento e atraso principalmente
ideológico, cultural...
O maniqueísmo da ditadura foi substituído pelo maniqueísmo
do Partido dos Trabalhadores, numa ganância alucinada
pela manutenção do poder à que finalmente chegaram.


A ditadura militar- com sua eterna paranóia- marcou os seus
arquiinimigos, os comunistas, como os
'comedores de criancinhas'...Hoje, numa inversão cômica,
os 'comedores de criancinhas' são os chamados agitadores
da 'elite', sempre supostamente com escusos intuitos
golpistas e etc, muitos etc...
O raciocínio é medíocre e cansativamente idêntico ao de
governos totalitaristas e atrasados do mundo inteiro,
os mais atrasados do mundo, diga-se de passagem...
Essa chamada 'elite' é simplesmente qualquer um que não
endosse cegamente ou circule, de uma forma ou de outra, pelos
corredores da ética oportunista do governo e do PT.
Não existem ideologias ou partidos políticos, com raríssimas e
pobres exceções. Existe apenas o governo e seus simpatizantes,
comprados a peso de ouro com dinheiro público- óbviamente-e o resto.
O resto são as pessoas que pensam, leem jornais, a imprensa
consciente que, histórica e dignamente exerceu durante
todo esse caminho sua função crítica, de registro imparcial
da história...

O resto é também a classe média, irônicamente encaixada no
conceito burro de 'elites golpistas'...
O resto é também o povo verdadeiro...não aquele
'povo' abstrato convenientemente imaginado e pintado pelos
petistas do governo, que na realidade significam apenas números
de votos comprados com Bolsas e Bolsas...
Se achassem que colaria, os marqueteiros do governo
certamente criariam a 'Bolsa Elite'...mas felizmente,
pelo que se vê, lentamente pelas ruas do país, essa
idéiazinha não cola-ou não compra-todo o mundo, principalmente
os que sabem ler, claro...

Nada de novo nisso também, a ditadura militar igualmente
apostava na desinformação e na sonegação do
conhecimento para continuar grudada no poder...e seu
grande- mas grande mesmo- temor...era a liberdade de expressão,
a difusão da informação verdadeira...uma coincidência tosca...
Por conta desse retrocesso gigantesco, que rotula ferozmente
os críticos do PT como 'os de direita', como se todo
cidadão fosse obrigado ou a se calar eternamente ou
ter alguma filiação política, ouvem-se algumas
besteiras que são realmente pérolas de estupidez,
partindo sempre da mesma fonte, os simpatizantes do PT
dentro da imprensa felizmente nanica e irresponsável.
Leio por exemplo uma dessas bobagens que coloca a
manifestação da Grande Vaia como a
'revolução de Nike no pé'...um cheiro daquele ranço
comunista que nos tempos da ditadura chamava a classe
média de 'burguesia'...e responsabilizava os 'burgueses'
por todos os males do mundo...
Assim, perde o direito à expressão, crítica e até de pensamento
qualquer cidadão que à custa de seu trabalho tenha conseguido
comprar qualquer coisa...e será ridicularizado pelos 'sábios' da
opinião, e execrado talvez...
O jornalista(?) que emitiu essa opinião talvez não se lembre das
frequentes reuniões informais do Genoíno com a Marta Suplicy,
com direito á presença de outros chefões, tipo Zé Dirceu e Mercadante,
no Rodeio ou no Fasano, os mais caros de São Paulo...
A diferença é que o cidadão de classe média que vai com seu
tênis Nike pra Paulista protestar pagou o tenis com seu dinheiro,
e a champanhe francesa, e etcs incluídos na conta do Fasano
foram pagos com dinheiro público




Outra afirmação que parece mesmo uma piada é a de que
o movimento Fora Lula é um absurdo, pois isso é uma democracia,
e se o homem foi eleito legítimamente tem que ficar até o
final, tem que se respeitar...
Ora, se o mesmo racíocinio simplista fosse aplicado à
Richard Nixon ou, pra ser mais tupiniquim, ao
nosso Fernando Collor, esses dois teriam cumprido seus
mandatos até o final, e imaginem o desastre que seria...
Isso esquecendo, claro, que a voz que mais esbravejava,
alta e clara, pelo impeachment de Collor era a do PT,
que hoje esquece toda a ética que pregava na época,
transformando o próprio Collor num reles
batedor de carteira...

Meus 'assistentes', Tchuka Ferraz e Victor Angeli, metendo a boca também


Talvez o ser político seja um mal necessário em qualquer sociedade,
e provávelmente o é, como dizem alguns, mas isso não
diminui a aversão que tenho pela grande maioria deles, e de
todo e qualquer grupo ou partido político.
Isso não me classifica como 'de direita', como prega a
cartilha dos petistas. Ou 'golpista'.
Isso é apenas um preconceito adquirido dolosamente pelo PT e seus
marketeiros de outros governos que igualmente tinham
muito a esconder...e igualmente procuravam se
manter indefinidamente no poder...
Qualquer tipo de preconceito, racismo ou distinção social
é sempre burro e traz consigo um atraso no compartilhamento
de idéias, na formação de opiniões...um atraso na própria
evolução do ser humano enquanto social.




Assim, há que se respeitar, por tímida que seja, a manifestação
de qualquer classe social feita civilizadamente, como foi
a deste 29 de setembro, na Paulista...pois uma manifestação
pública reflete uma crítica profunda, um basta...
E note-se que a classe média pode ser apenas a ponta
de um imenso iceberg, como aquele que, há muito tempo atrás,
afundou um navio pretensamente invencível, o Titanic...
É só ler os jornais, para ver que 21.300 estudantes,
no dia 21 de setembro, fizeram uma passeata na Zona Sul
do Rio de Janeiro pedindo a saída de Renan Calheiros do
Senado e fim à impunidade.
Estudantes golpistas de direita? Uma comédia,
mas com certeza há quem vá afirmar que eram
todos de classe média...


Marco Angeli, outubro de 2007