quarta-feira, 30 de julho de 2008

A MENINA E O MAR by Marco Angeli


Sueny Kellen viu o mar pela primeira vez em sua vida
no dia 14 de julho, aos 13 anos.
Sueny nasceu completamente cega.
Isso só foi possível graças à uma atitude no mínimo
inusitada, num mundo doido onde pais jogam os próprios
filhos pela janela ou na sarjeta.
Sueny recebeu, como doação, a córnea do menino João Roberto,
assassinado aos 3 anos por PMS no Rio de Janeiro dentro
do carro de sua mãe, que foi metralhado.
Sueny provávelmente terá 40% da visão do olho direito
recuperada. 

A menina e o mar, felicidade

Inevitável a reflexão sobre as pessoas e sua postura
diante da dor, da morte.
Inevitável a reflexão sobre a possibilidade, ainda,
de se acreditar...ou da ausência quase crônica de fé que infesta, o
tempo todo, nossos corações e mentes.
A atitude da família do menino imediatamente após sua
morte trágica- sem hesitações- em doar seus orgãos para
que outro ser humano pudesse usá-los é uma mostra
clara de que é possível ainda ter fé, mesmo em situações
extremas como a perda de um filho nessas ciscunstâncias.
Eu, honestamente, não consigo sequer imaginar
a sensação. Nem posso.  

 O menino João Roberto Amorim Soares, morte aos 3 anos 

Nós todos- sem exceção- e o mundo...deve um 
agradecimento à família desse menino.
Porque ela nos ensina, humildemente, sem alarde,
uma lição que há muito parece ter sido esquecida:
a de solidariedade entre seres humanos.
Nos ensina que a bondade ainda é mais que uma palavra
anacrônica, esquecida em algum momento em nossas
vidas corridas, adreniladas e...egoístas.

Paulo Roberto Soares, pai de João Roberto: força

Outra das córneas foi doada para uma menina,
no dia 9 de julho. Larissa Ludgero, de 8 anos.
Não sabemos ainda se a operação foi bem sucedida.
Mas a expectativa é positiva.

Sueny, gratidão

O transplante de córnea de Sueny e Larissa pode 
ainda- infelizmente- ser considerado quase um milagre.
Foi realizado no Rio de Janeiro, onde a situação dos
hospitais beira o caos, ou o surrealismo.
Por falta de verbas existe uma fila imensa de pessoas
aguardando transplantes. Faltam, nos hospitais, até o 
líquido para acondicionar os orgãos para transplante.
Conversava outro dia, no velho sofá vermelho do Graal,
com uma amigo carioca, sobre a situação lamentável em
que se encontra essa cidade maravilhosa que é
o Rio de Janeiro, e sobre a atuação miserável dos
chamados políticos que agem por lá. Triste.
Triste para quem, como eu, sempre adorou o Rio.

Larissa, 8 anos, esperança

A palavra esperança, no entanto, cabe e sobrevive aqui.
Paulo Roberto Soares e sua família reforçam, com este gesto, seu
significado. E mostram ao mundo que seu
filho, apesar de morto de forma trágica,
sobreviverá. Na esperança e nos olhos de duas meninas
que tiveram suas vidas mudadas para sempre.

Marco Angeli, julho de 2008 
 

sábado, 26 de julho de 2008

BATMAN, CORINGA, O CORVO by Angeli

O Coringa de Heath Ledger é genial.
Em Batman, O Cavaleiro das Trevas, ele rouba
completamente a cena, apesar do filme ter em seu
elenco estrelas como Morgan Freeman e Michael Caine.
O filme é dirigido por Christopher Nolan, que já fez outro
dos Batman. Talvez esse seja o melhor de todos.
O Coringa é realmente de Ledger.
O ator criou e fez a maquiagem e dá uma
dimensão impressionante ao personagem, à sua
ambiguidade, ao seu eterno amor e ódio pelo
que Batman representa.
E a interdependência que os dois tem,
um pela existência do outro. Ambos são 'freaks' e
foras da lei, com visões antagônicas e paradoxalmente
próximas, unidas...compartilham a angústia que é
gerada á partir de sua própria condição.
Ledger, ou o Coringa, é a consciência de Batman,
e como tal, é cruel.
Como cruel foi o destino do ator uma semana antes da
estréia do filme. Ledger foi encontrado morto- possívelmente
por uma overdose acidental de barbitúricos- em
seu apartamento em Los Angeles.

O Batman original, de Bob Kane

Ledger, morto por overdose em janeiro

O Coringa, desenhado através dos tempos: Alan Moore

Ledger: um Coringa angustiado, genial

O Coringa desenhado por Brian Azzerello

'Louco, passional e brilhante'. Rolling Stone, sobre o Coringa de Ledger.

O Coringa desenhado por Chuck Dickson. Elegante.

O Coringa de Ledger: pirado

Coringa desenhado por Ed Brubaker

'O mundo tá cansado de criminosos comuns.
Gotham City
precisa de alguém criativo, e sou eu!'
Esse é o Coringa de Heath Ledger

O Batman genial de Frank Miller

Christian Bale, o Batman...voz forçada e acusado
de encher a mãe e a irmã de porrada num hotel de
Londres, um dia antes da premiére do filme
naquela cidade.

Fatalmente, ao assistir Batman dias atrás e me
deliciar com a riqueza do Coringa que Ledger criou,
lembrei de outro personagem, irônicamente semelhante
e com destino igualmente trágico.
Em 1994, Alex Proyas dirigiu o genial 'O CORVO',
adaptação da história em quadrinhos
homônima de James O'Barr.
O protagonista é Brandon Lee, filho de Bruce Lee,
e sua interpretação é inesquecível.
Brandon igualmente constrói o personagem, como Ledger.

O Corvo de Brandon Lee

O Corvo e o Coringa, geniais

Oito dias antes de terminarem as filmagens de 'O Corvo',
que teve um orçamento de U$ 6 milhões, Brandon gravaria
uma das cenas finais, onde era baleado.

Brandon, interpretação brilhante.

Numa das cenas anteriores uma das armas usadas havia
sido carregada apenas com o projétil, sem pólvora,
para efeito de filmagem, pois era apontada
em close up para a camera.
O assistente do armeiro encarregado de preparar as
armas para o set de filmagem preparou aquela mesma arma
para a próxima cena, com balas de festim, que não tem o
projétil mas tem o dobro de quantidade de pólvora em
relação à uma bala normal para produzir mais barulho.

A cena a ser gravada era a da morte de Eric Raven,
o personagem principal- que se transformaria no Corvo-no
apartamento de sua noiva. Ele entrava pela porta
segurando uma sacola e era baleado e morto.

A arma para a cena era a que o assistente havia preparado.
Ele, entretanto, não havia retirado por engano
o projétil verdadeiro do cano do revólver.
Brandon Lee entrou no set de filmagem carregando
a sacola, conforme o script, e recebeu no peito o tiro
que atravessou a sacola e o matou quase que
instantâneamente.
Para terminar o filme, o diretor usou um duble e recursos
digitais, inclusive montando o rosto de Brandon em
cenas com o duble.   

A cena foi inteiramente gravada, mas os negativos jamais
foram revelados, e destruídos. 
Um destino trágico. Mas ficou o personagem
criado por ele, inesquecível, assim como o de Ledger.

Ledger e Lee: O Coringa e o Corvo, inesquecíveis.

Um detalhe: a trilha sonora de O Corvo é bem bacana,
e é assinada por uma banda meio trash chamada
'69 Eyes'. Quem curtir confira, vale.

Marco Angeli, julho de 2008

sábado, 19 de julho de 2008

DERCY GONÇALVES by Marco Angeli


Ontem, morreu Dercy Gonçalves, aos 101 anos.
Sempre, desde que me conheço por gente, fui fã dela.
Assim como fui de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, um dos
maiores comunicadores que este país já teve.
Dercy, na sua eterna juventude, foi reverenciada como
uma das pioneiras do teatro no Brasil.
Dercy se auto considerava uma criativa.
Os caras que escreviam os scripts para suas falas que
o confirmem...ela modificava tudo conforme atuava,
e suas atuações são inesquecíveis.
Forte, briguenta, lutadora, fez sua vida como quis.
À respeito de sucesso, sempre disse se considerar
apenas e nada mais do que uma sobrevivente.



Algumas da Dercy, que peguei aqui e alí:

'Que rica porra nenhuma! Mostrei minha bunda,
mostrei tudo, não ganhei nada!
Quase fui presa pela censura no teatro São Caetano.
Eu tinha carteira de puta.'

em entrevista para Sílvio Santos

'Nunca tive transa, cara. Nunca fui mulher de
tá trepando com ninguém. Minha vida era
sobrevivência, não voltar pra pobreza.'

em entrevista para Sílvio Santos

'Tenho meu Deus dentro de mim.
Eu ajudo Deus!
Ele tem uma perseguição comigo danada!'

em entrevista para Sílvio Santos

'Nunca fui estrela porra nenhuma!
Estrela foi Jesus Cristo, estrela é ele, que não
precisa de mídia.
Ninguém é estrela, tudo acaba.'

em entrevista para Hebe Camargo

Hebe Camargo, entrevistando Dercy:
'
Vou te falar uma coisa muito importante:
Você sentou nas minhas fichas do programa!'

Dercy, respondendo:
'Puta que pariu!!!!!'

'Não guardo rancor, nunca guardei.'

em entrevista para sílvio Santos

'O segredo da vida é se amar.'

em entrevista para Hebe Camargo

'Ninguém é mais feliz que eu.
Se acordar amanhã, tá maravilha.'



Dercy tinha um banheiro gigantesco, seu orgulho,
de cinema mesmo. E seu quarto tinha enormes cortinas
douradas. E na sua cozinha ninguém mexia,
além dela. Isso tudo ficou.
Mas o céu...o céu jamais será o mesmo, depois que
ela chegou...
Bjs, querida, e esteja com Deus, ele vai rir muito com você.

Marco Angeli, 20 de julho de 2008

quinta-feira, 17 de julho de 2008

O LIVRO DOS ANGELI & OLDIES by Angeli

Depois de anos, finalmente este livro 'intimista' sobre os
Angeli: a visão sagaz de Norma Angeli sobre as origens e
várias gerações de uma família italiana muito singular:
a dela própria, ou...a nossa.
Com uma edição limitada, fará parte da memória e será
um registro bem humorado e pessoal.

A capa. Meu pai, de terno, ao centro

Karina Hollo, minha prima, que idealizou e construiu este
projeto junto com a Norma, o apresenta assim:

'Tia Norma sempre foi minha tia moderna, independente, dona
do próprio nariz. Trabalhava, era (e continua) muito
bem relacionada, morava sózinha em um apartamento
deliciosamente arrumado e decorado, dirigia o
próprio carro (carismáticos fusquinhas), desde sempre
fez mistério sobre sua vida sentimental.
Como não ficar curiosa a respeito da história dessa mulher
cheia de charme, que entre suas peculiaridades achava
sósias de cinema para seus médicos?
Verdade que, neste primeiro volume, ela se restringe
a fatos familiares e profissionais. Mas já encomendei o
próximo - só com passagens 'proibidas'.
Foi um privilégio ser a primeira a ler seus relatos e
garanto que é impossível não se divertir e viajar com cada
página, todas cheias de lembranças presentes e muito
vivas em nós, integrantes da família Angeli:
a teimosia, o gênio forte, a criatividade, o bom humor e
o carinho com os seus.
Para guardar eternamente na biblioteca e passar aos
herdeiros.'

Karina Hollo
.
Norma, na Fenit, não se sabe em que ano: grande profissional

OLDIES

Fui remexer em algumas gavetas, procurando uma
foto específica de meus pais, e acabei achando algumas
coisas de que sempre gostei, antigas, e espero que me
perdoem, mas isso acaba de virar um álbum de família.

Mário e Ilva Princi Angeli, meus pais, cerca de 1951
Dos negativos de meu pai, fotografado por ele mesmo.

Vera Lúcia Staufert, meu primeiro casamento:
lutadora. Foto de Marco Angeli, 1984

As mãos de Vera, back from Los Angeles, 1978.
Foto de Marco Angeli

Vera Lucia Staufert
Back from LA again, at the mirror, 1978. Foto de Marco Angeli

Vera Lucia Staufert, ensaio, 1984. Foto de Marco Angeli

Nonno, 1979. Foto de Marco Angeli

Lucinha, filha da moça que trabalhava em meu studio, 1980.
Foto de Marco Angeli

Marco, 1984. Foto de Vera Lúcia Staufert

Marco Angeli, igreja, 10 de janeiro de 1976.
Foto de Luiz Antonio Fernandez.

Marco Angeli, 1979. Foto de J.R. Duran

Na verdade achei centenas de fotos, eu adorava
fotografar em preto e branco nessa época.
O causador disso tudo, claro, foi o livro da Norma,
maravilhoso, que é, a partir de sua impressão, eterno.

Marco Angeli, julho de 2008

terça-feira, 15 de julho de 2008

MEIMEI by Marco Angeli

Nunca pintei um retrato sem procurar saber o
que pudesse sobre a pessoa que estava pintando.
No caso de Irma de Castro Rocha, que se transformou
através de Chico Xavier numa das mais importantes
personalidades do espiritismo, isso foi fascinante.
Para ficar claro, não sou religioso, sou um estudioso...
Vício herdado de minha mãe, li muito durante toda a minha
vida, sem preconceitos -outro vício dela.
Assim tive contato, e estudei, desde pequeno, o budismo,
a religião de Maomé, muitas manifestações indígenas
de religiosidade, e a própria religião Católica, por força das
circunstâncias...estudei quando pequeno em colégio de freiras,
imaginem só.
Enfim, o retrato de Meimei me foi encomendado pela
Federação Espírita através da figura fascinante do
Dr. Ursulino dos Santos Isidoro, advogado, poeta, espírita e
um erudito por quem tenho grande amizade.

Retrato de Irma de Castro Rocha, Meimei
90 x 100 cm, carvão, acrílico e resina sobre canvas



MeiMei era um apelido carinhoso e secreto entre Irma e Arnaldo,
com quem se casara aos 22 anos. É uma expressão chinesa
que significa 'noiva bem amada', e está no livro
Momentos em Pequim, do filósofo Lyn Yutang, lido e
admirado por eles.
MeiMei morreu aos 24 anos, dois depois de seu casamento.
Sua vida, entretanto, foi marcante.
Amava e ajudava as crianças constantemente, era dona
de uma beleza notável e personalidade forte.
No dia de seu próprio casamento, à saída da igreja, MeiMei se
depara com um mendigo no chão, sujo, malcheiroso.
Espantados, os convidados observam os olhos dela se encherem de
lágrimas, e, ato contínuo, ela se abaixa, beija a testa do
homem e lhe entrega seu buquê de noiva.
Apesar de sua origem pobre era uma batalhadora, em
todos os aspectos.
Mas, além de tudo, MeiMei tinha o que os espíritas chamam
de mediunidade clarividente, e muito forte.
Isso esteve presente em toda a sua vida.
Seu próprio marido, no início de sua vida juntos, a achava
uma visionária. Mais tarde, no entanto, ela assume uma
importância enorme no mundo espírita, através
de Chico Xavier, que a explica e coloca suas
'visões' num contexto muito mais amplo, inclusive
histórico. MeiMei jamais conheceu Chico Xavier
pessoalmente. De MeiMei, psicografado por
Chico Xavier:

"De todos os infelizes, os mais desditosos são os que
perderam a confiança em Deus e em si mesmos,
porque o maior infortúnio é sofrer a privação da fé
e prosseguir vivendo.
Eleva, pois, o teu olhar e caminha."

Meu contato- se é que se pode chamar assim- com Chico Xavier
foi intrigante. Eu ouvira falar dele, como qualquer
pessoa, mas jamais havia procurado saber mais
do que me chegava ocasionalmente.
Numa certa madrugada, muitos anos atrás, eu assistia
sózinho em casa um filme muito interessante.
Inadvertidamente encostei no controle da TV e desliguei
o videocassete, na época. Em lugar do filme, a imagem
mudou para um canal qualquer.
O rosto de Chico Xavier enchia a tela.
Imediatamente peguei o controle para voltar ao filme.
Mas...o controle ficou suspenso no ar...e eu nunca soube
qual foi o final do filme.
Era impressionante a força e a energia contidas nas
palavras daquele homem de fala mansa, terna, carinhosa.
Impressionante o conteúdo da mensagem extremamente
complexa que ele passava alí, de uma maneira
paradoxalmente simples...e verdadeira.
Chico Xavier falava sobre os suicidas, lembro bem,
sua participação e definição na eterna roda da vida e
seus inúmeros degraus após a morte.
Sua voz e o contexto de suas palavras não tinham nada
daquela oratória inflamada e muitas vezes burra - na
tentativa de serem convincentes - dos pastores
mercenários que a gente vê tanto por aqui hoje.
Pelo contrário, era de uma lucidez e honestidade
evidentes, acima de qualquer dúvida, mesmo para um
leigo como eu. Assisti até o final.
Algum tempo depois, se me lembro, Chico Xavier morreu.

Mais tarde, após a morte de meu pai, um homem que
jamais havia sido religioso, muito discreto inclusive à
respeito desse e de outros assuntos, recebi uma caixa com
seu livros pessoais.
Entre eles estava, para minha surpresa,
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.
Li e reli este livro muitas vezes, talvez para tentar
entender meu pai, que já não estava a meu lado...

Hoje, muitos anos depois, essa roda parece que
continua a girar, e minhas mãos desenham o rosto
de MeiMei...

Marco Angeli, julho de 2008


domingo, 13 de julho de 2008

TELEFONICA GO HOME by Marco Angeli

Atendendo à milhares de pedidos...hehe...e á um deles em especial,
da minha querida Iara Bernardes, jornalista e criadora de
casos por vocação, que gostou do 'Telefonica Go Home'.
Copiem, vamos nessa, a gente se ferra mas não perde o pique!


Domingo blasé, frio. Noitinha. Penso em ir até o Graal,
comer aquele macarrãozinho esquisito. Preguiça.
Abro a Veja e me deparo com as peripécias do
titio Daniel Dantas, igualmente blasé num sueter de lá,
entrando e saindo da Polícia Federal.
Nada de muito novo, nada inédito. A mesma
coisa de sempre, formação de quadrilha, lavagem de grana,
evasão de divisas, grana no(s) bolso(s) das autoridades
de plantão. Muita grana. Que deve ter servido, inclusive,
para comprar o pijaminha do Celso Pitta, aquele mesmo
com que ele recebeu a PF em casa.
Mas serve pra explicar fácinho - uma cartilha de criança-
como e de que porão nascem estes 'monstrões' tipo
a Telefonica, geradas na base de negociatas, corrupção,
desvio de grana pública, etc. A mesma putaria de sempre.
E feita por quem não entende absolutamente nada
de serviços públicos, e nem quer entender.
O buraco, como sempre em se tratando de PT,
é bem mais embaixo.
Aliás, o próprio texto da revista, ao falar sobre
Dantas, esclarece muito:
" Ele é expoente entre os negociantes e sistemas
empresariais que nunca se expuseram ao poder purificador
da concorrência, que se escondem sob as asas das estatais
para fugir dos rigores da lei e do vento trazido
pela abertura econômica. Nada sabem sobre inovação
ou produtividade, os reais motores da criação de
riquezas no sistema capitalista."
Muito bem. Podemos estar falando do Opportunity,
Brasil Telecom, Telebrás, da Gamecorp, do filho do Lula,
ou da Telefonica. Tanto faz. Dá sempre no mesmo.
Uma história antiga como a invenção da roda:
Muitos se ferram para que alguns se dêem bem.
No Estadão, a matéria diz que Dantas é desenvolto, fala de
milhões como se falasse de batatinhas. Ou lulinhas.
Bacana. O único problema é que os milhões de que ele
fala não são dele, nem da quadrilha.
São públicos.
Enfim, nada de novo mesmo. Fazer o que?
Espero que o macarrãzinho esteja bacana. Vamos ver.

Marco Angeli, julho de 2008

terça-feira, 8 de julho de 2008

COMENTÁRIOS E INCOMPETÊNCIA

O código de programação deste blog não permite
que as pessoas que postam comentários se identifiquem
fácilmente através de e-mail.
Assim, ficamos todos sem saber quem coloca os
comentários, o que é uma pena.

Peço então para que coloquem sua assinatura no próprio
corpo do texto, se possível com e-mail para
retorno. Os comentários sem essa assinatura aparecem
com a desagradável designação de 'anônimos'.

SOBRE A TELEFONICA

'Durante a manhã e a tarde de hoje, diversos leitores da Folha Online
relataram instabilidade ou falha na conexão à internet, contestando
a nota oficial da operadora, que declarou que os serviços
foram completamente normalizados por volta das 23h de ontem,
em todo o Estado de São Paulo.

Internautas de Assis, Jundiaí, Ribeirão Pires, Piracicaba,
Americana e Campinas, no interior do Estado,
além de São Bernardo do Campo e Mogi das Cruzes (Grande SP),
afirmam que as dificuldades na navegação e troca
de arquivos permanece.
Relatos de leitores da capital paulista - em bairros como Brooklin
e Vila Buarque - têm o mesmo teor. '

"A Telefônica mente sobre a normalização do serviço
às 23h de ontem. Moro no centro de São Paulo e
meu Speedy só voltou a funcionar às 13h de hoje",
registra Carlos Mendes Garcia Navarro.
"Também não considero o serviço normalizado pois as redes
de compartilhamento de arquivos estão bloqueadas.
Parece que estão 'funcionando de muletas' e
se precavendo de um novo apagão", completa.

O texto acima e outros estão no endereço da Folha:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u419334.shtml

Como publicitário não resisto á fazer uma humilde
sugestão de personagem aos gênios do marketing da Telefonica.
Ao invés de assombrar a publicidade com
aquele ridículo 'Super 15' verde, como fez há algum
tempo e que felizmente desapareceu,
poderia lançar um personagem mais...realista.
Tipo o da foto acima, que poderia se chamar,
talvez...'Consumidor Feliz'.

A nota oficial da Telefonica, veiculada ontem
exaustivamente, é um belo exemplo do marketing
da empresa, que além de tudo pretende substimar a
inteligência e percepção de 2,2 milhões de usuários,
pra dizer o minímo. Uma piada.
E uma peça de ficção.
Basta que se veja a reação indignada de milhares de
consumidores como os acima, na web.
Pretende minimizar ao máximo as consequências de
sua própria incapacidade e descaso com a gestão pura
e simples de seu próprio negócio, que teóricamente
seria de telefonia fixa.
O conceito do texto é primário...
Nega - singelamente - que usuários domésticos tenham
sido afetados...e classifica o ocorrido como 'fato raro',
inexplicável, inesperado, e outros adjetivos.
O que é realmente INEXPLICÁVEL que uma empresa
desse porte e com tamanha responsabilidade, capaz de
afetar a vida e torrar a paciência de milhares de pessoas,
NÃO TENHA UM PLANO B,
como disse Pedro Dória em seu artigo no JT.
Qualquer empresinha mixuruca ou profissional liberal
que se preze tem um plano B para manter sua produção,
prazos ou serviços. Senão dança.
O concorrente toma seus clientes com um serviço melhor.
Mas não a Telefonica. Ela é única. Onipresente.
Não tem concorrentes.
Faz o que quer e ainda faz piadinhas, como o
'comunicado' de ontem. Ria quem não tiver Speedy.


Abaixo, o conselho do Procon. Vale a pena:

'O Procon afirma que a empresa deve fazer
um abatimento nos valores cobrados dos clientes,
em quantia proporcional ao período em
que o serviço ficar indisponível.

A instituição informou ainda que os clientes que
tiveram prejuízos financeiros ou danos
em função da ausência da internet devem recorrer
à Justiça contra a Telefônica e
pedir indenização.'

Usem. Em respeito à nós mesmos.

Marco Angeli, 8 de julho de 2008


domingo, 6 de julho de 2008

TELEFONICA, A INCOMPETENTE by Marco Angeli


A Telefonica é ambiciosa.
Além da incompetência cronica e notória que a coloca
na liderança absoluta no número de reclamações no
Procon do Estado de São Paulo.
4.405 reclamações só no ano passado, 1/5 do total.
Ambiciosa e não contente em ir ferrando a vida do
cidadão comum um a um, incansávelmente, na semana
passada atingiu a glória...e detonou com sua incapacidade
a rede da web de 407 municípios do Estado,
atingindo diretamente 2,2 milhões de empresas,
orgãos públicos e usuários domésticos.

Dançou todo mundo. Detrans, Ciretrans, 11 Poupatempos,
Bombeiros, PMS, Secretarias da Educação, Saúde, o portal
da Prefeitura, milhares de empresas, usuários domésticos...
e...pasmem...o próprio Procon. Seria cômico se não fosse trágico,
como dizem por aí.

Mas a Telefonica é cômica. Uma comédia.
Seu presidente, quando convocado a explicar e dar
satisfações sobre o ocorrido pelos irados
representantes do governo e orgãos públicos, respondeu
com a mesma gagueira das centenas de atendentes de
sua empresa. Disse simplesmente - que nem ele
nem ninguém de sua empresa tinha a menor idéia do que
havia acontecido - como todos,
grande vocação pra humorista, o cara.

E ele pode, claro. Cômodamente instalada em São Paulo, com
um monopólio absoluto em telefonia fixa, o que lhe lhe garante concorrência
ZERO - e consequentemente impunidade total no que diz respeito
à qualidade de seus serviços ou respeito ao consumidor que paga.
Não existe alternativa.
A não ser rezar para que nada aconteça em sua linha.
Sou suspeito para falar da Telefonica.
Odeio a Telefonica. E tenho razões de sobra para isso.
Meu studio fica dentro de um condomínio fechado onde, há
vinte anos, todo o cabeamento telefônico foi feito sob o solo,
talvez por razões estéticas. Essa decisão, alguns anos mais tarde,
se revelou desastrosa: os cabos acabaram sofrendo infiltração
e práticamente apodreceram.
O resultado foi que quase todas as linhas são 'sujas', ou seja,
sofrem o efeito da umidade constante, tem alto nível de
indução e ruído e param de funcionar com qualquer chuvinha.
Reclamei e relatei o fato á Telefonica durante anos.
Enrolação, enrolação, e jamais tomaram qualquer
providência séria, exceto paliativos para tocar
a situação para a frente sem se responsabilizarem.
Quando me venderam o Speedy, há alguns anos, a
instalação foi óbviamente um pesadelo.
Venderam e não conseguiam instalar de forma alguma.
Reclamei, exigi, comuniquei á Anatel, e relatei que a
dificuldade estava justamente na fiação estragada,
responsabilidade da Telefonica.
Finalmente, uma equipe de técnicos da 'empresa' me
escutou, procurou um dos raros 'pares aéreos' - como eles chamam
os terminais da fiação externa - limpo...e conseguiram
fazer o Speedy funcionar. Trégua.
Tive o Speedy quase um ano antes de qualquer outro
morador. Os meus vizinhos recebiam da Telefonica
a informação de que não era possível sua instalação.
Funcionava precáriamente, até chover forte.

Há três anos o 'sistema' da empresa emitiu um boleto, uma taxa
talvez, além da conta. Esse boleto jamais chegou em meu studio,
por erro do próprio sistema. Minhas contas mensais beiravam, na época,
R$ 1.000,00, por aí. A taxa era de R$ 57,00.
Meses depois, o 'sistema', eficaz, detecta que a taxa, claro,
não foi paga. E deleta minha linha do planeta.
Sumiu. Eu usava o número há muitos anos em meu studio,
e perdê-lo seria um prejuízo enorme.
Reclamei e reclamei. Dezenas de números de protocolo,
da Telefonica e da Anatel.
Eles nem ao menos conseguiam identificar o causador da
anulação da linha, no início, já que todas as contas estavam
pagas. Finalmente, dois meses depois, pra encurtar uma história
deprimente, assumiram o próprio erro mas me informaram
que não havia a menor possibilidade de que eu reavesse
meu número, já que o 'sistema' não conseguia fazer isso,
uma vez que a linha havia sido deletada. Surrealismo puro.
Me sugeriram que adquirisse nova linha. Piadistas.
Irado, continuei a reclamar. Queria o número de volta,
acionei meu advogado.
Um mês mais tarde o número retornou. Trégua.
Daí pra frente, uma paranóia. Como sabíamos que a linha
poderia ser retirada simplesmente por um capricho e por
uma taxa qualquer, sem explicação, a solução era consultar o
site da empresa o tempo todo, para verificar os débitos.
Exatamente uma ano depois, acontece novamente.
Exatamente pela mesma razão...o número é retirado da
face da terra por causa de uma pequena taxa, que a própria
Telefonica não sabia explicar o que era. Só que dessa vez
achamos o comprovante do pagamento e levamos à empresa.
E...pasmem...dezenas de reclamações depois, pilhas de
processos na Anatel...a Telefonica informa que errou, mas
que reaver a linha era impossível...seu 'sistema' não permitia.
Apesar de ter o comprovante em mãos, paguei novamente,
para ter o numero de volta. Não adiantou.
Me aconselhou a adquirir novo número.
Perdem o cliente mas não perdem a piada.
Não desisti, mesmo assim. Á partir daí, avisei a Telefonica
que a rotina de minha secretária seria, todas as manhãs,
ligar, reclamar e exigir novo protocolo. Todas as manhãs.
E, a cada cinco dias, novo protocolo da Anatel.
Muitas e muitas manhãs depois, meu número retornou.
Sem desculpas, sem nada. Trégua.

A Telefonica em meu studio, em seu merecido
lugar, com mérito...no lixo.

Finalmente, mais um ano...e aconteceu novamente.
No início deste ano minha linha despareceu novamente,
a mesma razão. Desta vez, vencido, desisti.
Felizmente, há um ano, prevendo esse desastre, mudei minha
conexão da web para satélite, desisti do Speedy, e comecei a
acostumar meus clientes se comunicarem comigo via celular,
Tim, Claro ou outro qualquer, exceto Vivo, naturalmente, que é
administrado pela própria Telefonica e tem o mesmo descaso com
seus consumidores.
Fiz o que deveria ter feito há muito tempo.
Desisti da Telefonica. E hoje, vendo sua atuação
deplorável na semana passada, sei que acertei em cheio.
Posso pagar um pouco mais, talvez, mas tenho serviços
confiáveis e respeito ao ser atendido
numa eventualidade.
Há tempos, apenas como exemplo, meu cartão do Unibanco
foi clonado num caixa eletrônico e foi retirada, em
poucas horas, uma quantia considerável.
Quando comuniquei o fato ao banco, imediatamente
tomaram as providências necessárias, e em 24 horas
me ressarciram do valor integral, com desculpas.
Sem enrolação, com profissionais de verdade cuidando
do assunto. Agora imaginem...se puderem...o que seria do
caso se a Telefonica administrasse o banco...ahahahahah.

Em tempo, o pai de Carlos Gracie, mito do jiu-jitsu no
Brasil, se chamava Gastão...era químico, diplomata,
garimpeiro, dono de cassino...e tinha uma fábrica de dinamite.
Certa vez, quando lhe cortaram a energia, explodiu
uma bomba na companhia de luz.
Se a moda pegasse, A Telefonica estaria dinamitada
há muito tempo. E fora do Brasil.
O que seria bacana, daria lugar à alguma empresa
realmente competente para gerir a telefonia fixa.

Marco Angeli, julho de 2008