quarta-feira, 27 de agosto de 2008

RSVP/CARAS NOVEMBRO 2006 by Angeli

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HOMENS DE PEDRA
SUSTENTAM EDIFÍCIOS NO CENTRO

No século XIX, a Rua da Quitanda ganhou esse nome
porque era a preferida das 'quitandeiras', mulheres que
vendiam alimentos cozidos ou in natura no Centro Velho.
O trecho entre as ruas Álvares Penteado e 15 de Novembro
também era conhecido como Beco da Cachaça, numa
referência ao produto que ali era fartamente
comercializado e consumido.
Ao longo do século XX, o local passou a ser ocupado por
construções mais altas e elegantes, que sediam até hoje
corretoras que operam na Bolsa de Valores.
Foram-se as quitandeiras, vieram os agitados brokers.
Foi isso tudo que moveu o artista plástico e ilustrador
Marco Angeli, autor do desenho ao lado.

A dupla publicada em novembro

Ele conta que sua inspiração veio de impressões da infância:
"meu pai tinha conta num banco alí do Centro,
e às vezes, para minha alegria, me levava junto com ele à agência.
Eu o acompanhava, pequenininho ainda, assombrado com
aquela cidade cheia de pessoas que andavam depressa.
As ruas do Centro Velho, como a rua da Quitanda, são
estreitas. Por isso, estavam sempre imersas na sombra dos
edifícios, o que lhes conferia uma característica única,
mágica aos meus olhos de criança.
Eu me impressionava com aqueles homens de pedra
que suportavam heróicamente as colunas dos edifícios, e
imaginava como é que eles teriam sido esculpidos e
o que eles simbolizavam.
A luz, com o passar do dia, ia transformando aqueles
homens de pedra, dando nuances e expressões
inesperadas à cada um deles.

Homens de pedra, eternos, imperturbáveis.

Eles me observavam passar, imperturbáveis, compenetrados
em seu eterno trabalho de segurar as colunas.
Mal poderiam imaginar que um dia eu os desenharia,
ainda assombrado..."

Transcrito da revista RSVP, novembro de 2006

Meu pai, com certeza, talvez nem imaginasse o papel
que fazia em minha vida nestes momentos em que me
transformava em seu companheiro de trabalho.
Ele amava a cidade, e provávelmente me passou esse
amor...assim como o amor aos livros, ao desenho,
e à marcenaria, em que era mestre.
Ele já não está aqui comigo, mas os passos que demos
juntos naqueles dias serão eternos em minha lembrança.

Marco Angeli, agosto de 2008

Um comentário:

  1. Você sempre se refere ao seu pai de uma maneira extremamente generosa...um sentimento que transcende qualquer dimensão de vida...de cultivar a gratidão...
    abs

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