segunda-feira, 6 de julho de 2009

JÁ VAI, JOSÉ? by Marco Angeli


Uma madrugada dessas, dias atrás, passei no Graal
como faço sempre pra tomar um café depois
do cinema. Jean, o gerente da noite, velho amigo,
segurava transtornado a Veja que acabara
de sair. Aberta numa página que estampava a figura
também transtornada do presidente do Senado,
José Sarney, a revista aguentava impassível a ira
do meu amigo que não se conformava em ter que
ralar, estudar, trabalhar à noite, etc, e ver esse pessoal
da política se esbaldando numa esbórnia que
parecia jamais ter fim. Ou começo.
Tentei explicar à ele que o Lula, na sua peculiar sabedoria,
havia explicado pra todo mundo que o José Sarney
não era um cidadão comum, estava muito acima disso, e
como tal deveria ser tratado.
Minha tentativa de acalmá-lo não foi lá muito convincente.
Ele continuou encarando a Veja com fúria.
Mais tarde, voltando pra casa, lembrei das pessoas que
eu via eventualmente, nas madrugadas.
Umas seis da matina, enquanto eu, com sorte, voltava
de alguma festa por aí, observava aquelas pessoas,
banho tomado, mochila nas costas, marmita, saindo
para o trabalho de todos os dias. Silenciosos, numa rotina
há muito adquirida, eles iam cuidar do sustento de seus
filhos, de suas esposas, de suas vidas.
Para eles, como foi para meu pai, e para os pais de muita
gente, ganhar a vida significava ralar, obedecer aos
vencimentos dos carnês pontualmente, pagar pela casa em
que se mora, pela comida que se come.
Uma luta contínua, sem fim. Um leão por dia.
Pensei bem, e vi que o Lula tinha razão, afinal.
José Sarney estava tão distante disso tudo quanto
talvez um dinossauro estava para um computador -uma
homenagem justamente ao filme que eu havia visto,
Era do Gelo 3.
José Sarney é especial mesmo, acima de tudo isso.
Como outros tipos de DNA semelhante tiveram, tem o emprego
maravilhoso de presidente do Senado do Brasil.
Tem poder, sabe muito, pois sempre se virou aqui e alí
do mesmo jeito. Saber é poder.


Um selinho pra comemorar, depois

Além disso, tem incrustado no seu DNA o coronelismo,
herança magnífica que atravessa séculos, e que
de vez em quando gera criaturas como Antonio Carlos
Magalhães ou Renan Calheiros, seus antecessores
no dito emprego. E naquela poltrona azul.
Tem a sensação confortável do poder que tem,
sobre o partido que domina, sobre aqueles que hoje
tem o poder. Isso é o que importa, e jamais mudará,
enquanto existirem outros como ele.
Talvez tenha consciência, remotamente, das pessoas que
trabalham, ralam pra construir este país, e que, para todos
os efeitos, pagam seu salário e de toda a cambada
que ele enfiou em cargos públicos.
Mas o que se há de fazer? A vida é assim mesmo, alguns
nasceram para ser especiais, acima disso tudo.
Produzir, trabalhar, essas mesquinharias...são para outro
tipo de gente, as que não são especiais.
No entanto, aquelas pessoas que saem, humildes,
todos os dias com a mochila nas costas, o sol ainda
aparecendo, tem uma força que ele jamais teve ou sonha ter.
Elas constroem.
Unidas, elas o tirarão daquela cadeira azul.
E os outros como ele, lentamente.
Até que essa raça especial, de DNA acima das leis dos
homens finalmente desapareça.
E já vai tarde, muito tarde.

Marco Angeli, julho de 2009

4 comentários:

  1. Imortal deveria ser a nossa indignação diante desses homens corruptos travestidos de políticos!!!

    elisa

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  2. Pelo que andei lendo nos jornais, sei não....A oposição sequer toma uma posição. Os aliados estão alinhados com a corrupção. Dificil é achar um político que não tenha o rabo preso. Aliás, politico tem rabo? Porque por enquanto, só estão colocando no nosso!

    elisa

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  3. Arthur Virgílio X Renan, agora dizem que é caso de psiquiatria...Freud explica!!!...Ainda estão na "fase oral"...ninguem quer largar esta tetinha!!!
    É sr.José Sarney, melhor procurar outra coisa para mamar...no Senado é que não!!!
    Há 3 minutos

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  4. Será que este tipo humano superior, não tem vergonha na cara? Tenho responsabilidade sobre isto, pois nunca saí por aí a dizer vamos mudar esta política de vergonha, vamos eleger pessoas e não seres superiores.
    Este meu depoimento significa, que não vejo a hora de surgir um movimento de parada geral da população em benefício de nós mesmos, os brasileiros.
    Dia 07 de setembro às 17h00, parada geral pessoal, parada geral!

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