domingo, 2 de maio de 2010

DIVERSOS AFINS by Fabricio Brandão e Leila Andrade

É um prazer grande ver meus trabalhos no Diversos Afins,
a revista eletrônica do Fabricio e da Leila, e principalmente
por estar ao lado de poetas e escritores
tão intrigantes, interessantes...

 Um dos contos, de Carla Luma, é bem bacana,
está abaixo:
 

A ÁGUA SUJA SUJA TUDO
Carla Luma
Vivessem vocês como vivo, de rua em rua, porta em porta,
beco em beco, aqui fazendo unha de madame,
ali vendendo um batom, acolá um boquete,
teriam ódio de chuva.
Eu tenho. É atraso de vida. Queda certa e imediata no faturamento.
Ou vocês pensam que comprei apê e
new beatle com literatura? A porra agora se agravou.
Culpa, dizem, do tal de aquecimento global.
A chuva é diária o dia inteiro e eu tenho new beatle,
não tenho barco. O celular só toca pra desmarcar.
Acho até que não dá mais pra morar aqui em Sampa.
Voltar pra Jacarezinho nem pensar. De lá só o meu travesseirinho,
que mamãe recheou com penas de ganso
retiradas de um velho cobertor.
Taí duas palavras que me causam arrepio: ganso e cobertor.
Chuva? Chuva não. Odeio. Aliás, não entendo porque,
com tanto progresso, tanto desenvolvimento,
ainda não cuidaram de cobrir as ruas das cidades.
Cobrir e climatizar, obviamente. Imaginem transformar
São Paulo em um gigantesco shopping center?
Ficaria chiquíssimo.
Pensei em me mudar pra Salvador, mas me disseram
que o que eu faço por grana a concorrência faz lá por prazer.
Odeio chuva. Talvez vá para o Rio.
Apesar que lá também chove,
penso que será mais fácil conquistar os votos de que preciso
pra entrar na Academia Brasileira de Letras.
Posso descolar um apê no Leblon próximo ao de
João Ubaldo Ribeiro, que é baiano de Itaparica
e com certeza odeia chuva tanto quanto eu.

(Carla Luma nasceu em Jacarezinho, Paraná.
Costuma se apresentar como manicure e vendedora de cosméticos.
É autora do livro de memória precoce 
"As mãos me falam, os falos me calam", totalmente escrito
em alfabeto ideográfico, que será lançado na China, 
com prefácio de Mao Tsé-Tung, antes do dia do Juízo Final. 
Espera ansiosa que morra algum imortal,
pois pretende candidatar-se a uma cadeira na 
Academia Brasileira de Letras para aproximar-se
dos seus ídolos: Ariano Suassuna e João Ubaldo Ribeiro)
................................................................................

O comentário sobre meu trabalho, de Fabrício Brandão:

'Uma sensação urbana paira nalgumas das telas
do artista plástico Marco Angeli.
Sua São Paulo, por exemplo, é percorrida em diferentes
recortes históricos, algo a demarcar muito mais do que
reproduções de uma época determinada.
A virtude desse olhar é a possibilidade
de extrair dos lugares e de suas respectivas paisagens
um sentimento impregnado dos signos do tempo
e seus matizes.
Outro aspecto relevante de sua obra está na
representação do humano, condição esta que cria,
no retratar de gestos e formas,
uma leitura particular daquilo a que denominamos
por realidade.
Com uma trajetória profissional vasta,
a qual abarca incursões pelo desenho, ilustrações,
pinturas e trabalhos publicitários, Marco Angeli elegeu o
figurativismo como via norteadora de sua arte.
Tal predileção nos devolve, sob a forma de imagens,
contornos possíveis para os homens e seus lugares,
visões mundanas que também sabem
recorrer aos recursos valiosos da memória afetiva.'

Nenhum comentário:

Postar um comentário