sábado, 8 de agosto de 2009

ADONIRAN E O SENADO by Marco Angeli


Eu preparo as imagens que fiz da festa cigana na semana passada,
sem a menor intenção ou vontade de escrever sobre as
lamentáveis atuações dos personagens do circo que hoje
tem o nome de Senado brasileiro. Mas não dá.
Como artista plástico, deveria me limitar a pintar apenas.
Já me disseram isso. Talvez seja por aí mesmo.
Mas acima do artista, sou cidadão deste país.
E como para outros milhóes de cidadãos, fica difícil de
engulir a descarada parafernália armada no Senado para livrar
a cara do senador José Sarney, enfiado até o bigode nas trapalhadas
desonestas que é sua marca desde sempre.


Quinta, 6 de agosto, data que será lembrada com vergonha
pelos que estavam no Senado e pela nação.


O mais revelador disso tudo - e pouco surpreendente- é ver
que a Tropa de Choque criada para manter Sarney á qualquer
custo na cadeira azul é justamente formada pela nata da
corrupção e coronelismo deste país: os notórios Renan Calheiros,
cassado por corrupção, e Fernando Collor, igualmente e literalmente
alijado do cargo de presidente da República por corrupção.
Diga-se de passagem que os três, no decorrer de suas carreiras,
já se traíram mútuamente e agora se unem para manter o que de
pior existe, há muito, no que se chama de política.
Vendo o barraco que rola no Senado nestes dias, protagonizado
especialmente por Renan, outros nomes caberiam.
E como uma luva.
Renan brada: 'vá à merda', por exemplo, em plena sessão, e
todos os senadores - obedientes- ficam sentadinhos em suas cadeiras.
Nomes. Como o do quase desconhecido bufão contratado pelo mesmo
Renan para oficialmente presidir a deslavada limpeza que
mantém Sarney no cargo, arquivando todas as denúncias
contra ele duma única vez. Paulo Duque.


Paulo Duque, suplente de suplente guindado pela tropa
de choque aos 15 minutos de fama de que Warhol falou.
Apelidado de Freedy Krueger por aí, na net, seguiu o script para
o qual foi contratado direitinho e depois deve ter passado
no caixa para receber o cachê mais bônus.

Sua biografia, que já não era das melhores, afundou.

Paulo Duque é suplente de suplente, desconhecido da maioria
dos cidadãos até hoje, exceto no circuito do jogo do bicho
do Rio de Janeiro onde é figurinha carimbada.
Na quinta passada, 6, esse mesmo político, de 81 anos,
e com pouca ou nenhuma preocupação para com a própria
biografia - que enfiou na mesma merda que Renan citou-
sorridente e brincallhão, com jeitão de malandro,
arquivou o que pôde das denúncias contra Sarney, criando
uma nova era no Senado. A era da vergonha.
Irônicamente, como lembrou o jornalista Vítor Hugo Soares,
na mesma quinta Adoniran Barbosa, o grande Adoniran
de 'Saudosa Maloca', completaria 99 anos.
Adoniran, se vivo ainda, com certeza contemplaria o
Senado com um sambinha.
Mas, como diz o próprio Vítor, o ambiente no Senado é
parecido e muito com o boteco do Bixiga onde, uma vez,
Adoniran e Elis Regina cantaram as façanhas do valentão Nichola
no meio da pancadaria onde voavam pizzas e bracholas.
Outros tempos, em que os políticos roubavam escondidinhos,
sem a desfaçatez e a afronta de hoje.
Adoniran e Elis, no boteco do Bixiga, em 1978.
Comovente a interpretação de Elis, 'Saudosa Maloca'.


Não acho até que seja lá muito justa a comparação, que é
desonrosa para qualquer boteco do Bixiga, antigo
ou atual. Lá com certeza a ética e a moral estão no
boteco, nas mesas, e não no banheiro, popularmente conhecido
nos botecos e no Senado como WC ou talvez mictório.
Enfim, que meus amigos me desculpem por este post.
Eu poderia simplesmente pintar.
Mas jamais sujaria uma tela com...como disse Renan...
essa merda toda.

Marco Angeli, agosto de 2009, lembrando com saudade de Adoniran


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