terça-feira, 1 de janeiro de 2008

2008, A NEW YEAR by Marco Angeli

Minha vida é cheia de imprevistos. Adoro imprevistos, na verdade.
Um desses me fez interromper a viagem que fazia e
acabar na casa de um grande amigo, no Pacaembú, em São Paulo,
no dia 31 de dezembro, quando 2007 finalmente terminava.


A avenida Paulista, ao lado, era uma tentação.
Há anos eu não via um ano nascer alí na avenida, que
sempre teve e terá um significado muito forte pra mim.
Chegamos a pé nos últimos minutos do ano que acabava.
Foi uma emoção estar alí novamente, ao som do Lulu Santos.

Primeiros instantes de 2008, eu e meu melhor amigo,
Victor Angeli, meu filho. Na foto deTchuka Ferraz.


Primeiros momentos, o ano acaba de nascer.
A avenida Paulista- como um enorme coração- começa
a pulsar marcando os minutos de um novo ano.
As pessoas vibram, é sempre uma emoção estar
alí, sentindo a energia dessa avenida maravilhosa.


Victor e Tchuka, o ano começa, finalmente...




Andamos por alí, nessa madrugada, e de repente me vejo
diante do prédio arruinado do que um dia foi o famoso
Baguette, em frente ao cine Belas Artes. Parei um momento,
imaginando se as pessoas lembravam ou sequer
sabiam que o Baguette havia sido um dos mais importantes
botecos dos artistas de São Paulo.
Imaginei que meu filho não saberia, claro, nem poderia...
Durante mais de uma década o Baguette havia sido o ponto de
encontro de todos os que perambulavam pela
madrugada da cidade, dos músicos aos poetas, dos pintores
aos malucos, dos que tinham grana e dos que não tinham.
Sob o comando de João Pedro, o Baguette era democrático.
Era um bar, apenas, e as pessoas lotavam aquele lugar sem
conseguir sentar, a madrugada acabando e o sol
começando a nascer alí no início da Paulista...
Eu subia a Consolação de moto, no inverno, num frio de
rachar, apenas pra terminar a noite no Baguette...

Alí conheci Plínio Marcos, conheci Herton Roitmann,
que havia desistido da direção do teatro do Itaú e
pintava suas telas mescladas com as colagens de gavetas,
portas de armário, todo o lixo que encontrava, e
transformava numa montagem genial...
Eu passava quase todas as madrugadas por alí, com a Jackie,
minha meio namorada e amiga do Allan, o negão que fazia
a segurança...um armário que realmente fazia com que
o lugar ficasse sossegado, sempre...Os que teimavam em
mudar essa ordem eram levados pelo meu amigo pra passarela
subterrânea que ligava aquele lado da avenida ao cine
Belas Artes, em frente, e tinham uma conversinha amigável
com ele...e a paz voltava, claro, ou o sujeito sumia.
Alí conheci e fiquei amigo de um professor de
História da Arte da Faap que acabou se suicidando em
seu apartamento por causa da AIDS que o consumia.
Alí marquei uma viagem de moto pra Recife que
nunca fiz.
Alí conheci e acabei namorando com a Cristina, mulher
eclética que não conseguia decidir se gostava mais
de meninos ou meninas.
Alí saí na porrada com um bêbado
(o Allan terminou com a briga, felizmente) por causa
da Adriana, numa madrugada. Um ano mais tarde
eu me casaria com ela, graças ao Baguette.

Memórias...o Baguette tinha um subsolo aristocrático
onde de vez em quando o Maschio, que era uma espécie
de personalidade cultural da cidade, fazia seus famosos
leilões de obras de arte e quinquilharias ditas
antiguidades...sempre e sempre envolvido em algum
evento beneficiente, principalmente para os hospitais
que se dedicavam a a tratar de pacientes com AIDS.
Doei com orgulho algumas telas minhas para esses
leilões, assim como todos os meus amigos...inclusive o
Herton Roitmann. Era uma festa.
Mas foi alí no Baguette, naquelas madrugadas, que minha
pintura tomou novo rumo. Em 1989, cansado do abstrato que
pintava, começou a nascer em mim o embrião de uma
mostra que faria em 1990, e que retratava a Paulista e sua
madrugada, com seus personagens etéreos e suas
luzes de neon...figurativamente, enfim...
A mostra foi um sucesso, algumas das obras estão, hoje,
no Shopping Paulista...e definiu minha pintura e meu
trabalho daí para a frente, até hoje...


Memórias apenas...que vieram nos últimos segundos de
um ano que terminava, e nos primeiros do que
começava...inevitável que fosse assim, com os pés
e meu coração alí, naquela avenida que me observa
divertida há tanto tempo, como observou outros, milhares,
que vieram e passaram...
Meu filho, ao meu lado, começando agora seu caminho,
ignorava completamente essas memórias...fascinado
observava os fogos que comemoravam 2008,
colorindo o topo dos edifícios...
Deixei de lado o Baguette e as memórias, finalmente,
abracei meu filho, meu melhor amigo -e botei o pé no
ano que estava começando, cheio de esperanças...

Muitos de branco: a esperança, já é 2008


A avenida, impassível, serena, aguarda o amanhecer
de um novo 1 de janeiro, como tantos que já viu...

Marco Angeli, 1 de janeiro de 2008

3 comentários:

  1. amore mioooooooo,como sempre arrasando com suas imagens e palavras!!! sou fã cada dia mais :)
    um 2008 cheeeio de realizações e tudo mais de melhor q a vida oferece! Bjsss no seu coração, bjss na Tchuka e no Vitão!
    sucesso infinito!!!

    ResponderExcluir
  2. Adoro esse Blog e minha Vida ..
    Tudo aqui e lIndo

    Tudo ...mesmO

    beijs

    ResponderExcluir