Minha admiração pelo povo cigano vem de longe.
Vem das cuevas na Espanha, onde eu fotografava nas madrugadas
inebriado pelo som do violão enlouquecedor
do flamenco, sem saber exatamente onde acabava a música
e onde começavam as cores que rodopiavam, giravam,
faziam composições impossíveis, doidas, livres
como a alma daquele povo, que eu encontrava, volta e meia,
vagando como eu pela Espanha, por castelos, por praias...
Aquele espírito, aquela mágica acabou me impressionando
profundamente, e carreguei aquelas cores nos olhos desde
então, e aquela música dentro de mim...
Em dezembro de 2006, fiz a primeira matéria deste blog.
Além de seu significado óbvio, por ter sido o nascimento
deste blog, a matéria sobre o acampamento cigano
foi, finalmente, um registro maior e uma espécie de
pequeno reconhecimento dessa cultura e desse povo
de alma livre, alegre, contagiante.
Nestes anos, tenho voltado ao acampamento, e lá
tenho amigos que prezo.
Akdenis, Aki, grande brother
No dia 24 de setembro passado, levado novamente pela mão de meu
brother Aki Mohammad, voltei para a festa de Santa Sara de Kali.
E, com a mesma sensação de anos atrás, quando
eu e a jornalista Iara Bernardes produzimos a matéria,
registrei o que pude, novamente encantado.
Encantamento, aliás, é uma palavra simples de se entender,
em seu significado total, quando se está entre
o povo cigano, em uma de suas festas.
De 2006, alguns comentários:
´(...)quando o artista plástico Marco Angeli ligou me convidando
para irmos, ele, sua assistente Eriane, eu e o vereador Akdenis
visitar um acampamento cigano existente
muito próximo de onde eu estava.
O Marco tinha uma idéia na cabeça que virou mesmo
um personagem francês de quadrinhos: Ideiafix.
Na verdade o artista nos convenceu a sonharmos o sonho dele...
Assim, lá fomos nós conhecer um acampamento cigano,
na cidade de Itapevi, num domingo vago.
Como tinha chovido muito no sábado, ao chegarmos ao local
encontramos muitas poças dágua e muito barro...´
'(...)Ah! O Marco? Cadê o Marco, nos perguntamos!
Olhamos pra uma barraca distante e lá estava ele,
deitado literalmente no barro, tirando seus retratos,
as crianças embevecidas com aquele homem
de sorriso infantil e com uma máquina apontando pra eles...
Do sonho dele...'
Iara Bernardes, dezembro de 2006
Fabi Vianna e a cigana maria José: segredos
Eu não ia publicar as fotos, mas meus desenhos...
A coisa mudou completamente de rumo quando comecei a
fotografar, as crianças penduradas em mim, me apontando coisas e lugares...
Foram cinco horas e 500 imagens de amor à primeira vista,
literalmente...especialmente pelas crianças,
especialmente pelos seus olhos...
Esqueci do pessoal que estava comigo,
e que gravava uma entrevista com os ciganos, numa
tenda distante....´
Marco Angeli, dezembro de 2006
Soninha, que por alguma magia toda especial,
talvez um segredo cigano, se mantém
sempre jovem, sempre alegre...
As crianças: expressivas, olhos e coração...
Hadisha e Rose Lima, mãe e filha,
mulheres e orgulho de Aki...
Amor antigo, registrado em 2006 e hoje.
Fabi, virando cigana, aprendendo...
Gerações diferentes, o mesmo espírito livre.
A música, inebriante.
Mistérios, mulheres...
Bene,de lá para cá muita coisa mudou, o acampamento
cresceu, melhorou, novas crianças surgiram,
trazendo alegria e barulho...
Mas a alma, o espírito cigano continuam alí, presentes,
exatamente o mesmo de séculos, exatamente a
mesma alma livre, solta...
Ficam então, as palavras de iara Bernardes, em 2006:
´Das fotos, seus retratos, de tudo isso, uma história...
Absolutamente improvável, absolutamente inesquecível...´
Marco Angeli, 24 de setembro de 2011, festa de Santa Sara Kali
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