sábado, 28 de julho de 2007

CANSEI by Marco Angeli

Coincidentemente, ou talvez não, um dia depois que escrevi o post sobre o vôo 3054 a OAB lança uma campanha em São Paulo que trata exatamente do mesmo tema.
A campanha é objetiva e necessária.
Do site, www.cansei.com.br:
“Começa nesta sexta-feira, 27 de julho, a campanha do Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros. Liderado pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional São Paulo e com a participação de diversas entidades e lideranças da sociedade civil, a campanha visa sensibilizar os brasileiros a pararem durante um minuto, às 13 horas do dia 17 de agosto, quando o acidente com o avião da TAM completará 30 dias.”
“Para disseminar a idéia e estimular a adesão pública, o Movimento lança nesta sexta, dia 27 de julho, uma campanha publicitária. As peças de mídia impressa e eletrônica mostrarão pessoas de todas as idades, raças e classes sociais descrevendo situações e fatos que contribuem para a sensação de caos, contra a qual esta campanha se posiciona.”
“Com esta campanha, o Movimento pretende lembrar a população que cidadania não é algo que se exerce apenas pelo voto, de quatro em quatro anos”, destaca D’Urso. “Cada um de nós pode e deve se manifestar por meio dos canais previstos em um regime democrático. Somente com tal participação é que nossa jovem democracia se consolidará e atingirá um patamar mais maduro.”






A verdade é que não há coincidência, parece que estamos chegando num ponto em que essa irresponsabilidade crônica dos orgãos do governo finalmente começa a mobilizar as pessoas, apesar de ter ultrapassado e muito qualquer limite de tolerância.
Os sinais, entretanto, de que a coisa se aproxima de um ponto de onde não haverá retorno são muitos. E alarmantes, principalmente em relação à imprensa.
Seria um absurdo a imprensa ser amordaçada nos moldes
do acontecido naqueles anos negros da ditadura.
Recebo dezenas de e-mails que preveem exatamente isso.
Sobre Arnaldo Jabor ter sido calado na CBN.
Sobre Boris Casoy, calado e despedido por ordem do presidente.
Sobre Diogo Mainardi, que além de processado, sofre ameaças de morte no jornal do MR-8, da base aliada do presidente.
Sobre Medida provisória enviada por Lula ao Congresso
instituindo a Censura Prévia aos programas de rádio e TV, inclusive os programas jornalísticos.
O comentário de Dora Kramer no Estadão de Domingo:
"A decisão do TSE que determinou a retirada do comentário De Arnaldo Jabor do site da CBN, a pedido do presidente Lula até pode ter amparo na legislação eleitoral, mas fere o preceito constitucional da liberdade de imprensa e de expressão, configurando-se,
portanto, um ato de censura."
"Jabor faz parte de uma lista de profissionais tidos pelo Presidente Lula como desafetos e, por isso, passíveis de retaliação à medida que se apresentem as oportunidades!"



O artigo de Arnaldo Jabor:

A VERDADE ESTÁ NA CARA, MAS NÃO SE IMPÕE.
ARNALDO JABOR

O que foi que nos aconteceu? No Brasil, estamos diante de acontecimentos inexplicáveis, ou melhor,"explicáveis" demais.
Toda a verdade já foi descoberta, todos os crimes provados, todas as mentiras percebidas. Tudo já aconteceu e nada acontece. Os culpados estão catalogados, fichados, e nada rola. A verdade está na cara, mas a verdade não se impõe. Isto é uma situação inédita na História brasileira. Claro que a mentira sempre foi a base do sistema político, infiltrada no labirinto das oligarquias, claro que não esquecemos a supressão, a proibição da verdade durante a ditadura, mas nunca a verdade foi tão límpida à nossa frente e, no entanto, tão inútil, impotente, desfigurada.
Os fatos reais: com a eleição de Lula, uma quadrilha se enfiou no governo e desviou bilhões de dinheiro público para tomar o Estado e ficar no poder 20 anos.
Os culpados são todos conhecidos, tudo está decifrado, os cheques assinados, as contas no estrangeiro, os tapes, as provas irrefutáveis, mas o governo psicopata de
Lula nega e ignora tudo.
Questionado ou flagrado, o psicopata não se
responsabiliza por suas ações.

Sempre se acha inocente ou vítima do mundo,
do qual tem de se vingar.

O outro não existe para ele e não sente nem remorso
nem vergonha do que faz.

Mente compulsivamente, acreditando na própria mentira, para conseguir poder.
Este governo é psicopata!!! Seus membros riem da verdade, viram-lhe as costas
e passam-lhe a mão nas nádegas.

A verdade se encolhe, humilhada, num canto. E o pior é que o Lula, amparado em sua imagem de "povo", consegue transformar a razão em vilã, as provas contra ele em acusações "falsas", sua condição de cúmplice e comandante em "vítima".
E a população ignorante engole tudo. Como é possível isso?

Simples: o Judiciário paralítico entoca todos os crimes
na Fortaleza da lentidão e da impunidade. Só daqui a dois anos serão julgados os indiciados - nos comunica o STF.
Os delitos são esquecidos, empacotados, prescrevem.
A Lei protege os crimes e regulamenta a própria desmoralização.
Jornalistas e formadores de opinião sentem-se inúteis, pois a indignação ficou supérflua. O que dizemos não se escreve, o que escrevemos não se finca, tudo quebra diante do poder da mentira desse governo.


Sei que este é um artigo óbvio, repetitivo, inútil, mas
tem de ser escrito....

Está havendo uma desmoralização do pensamento
Deprimo-me: "Denunciar para quê, se indignar com quê?
Fazer o quê?".

A existência dessa estirpe de mentirosos está
dissolvendo a nossa língua.

Este neocinismo está a desmoralizar as palavras, os raciocínios.
A língua portuguesa, os textos nos jornais, nos blogs, na TV, rádio, tudo fica ridículo diante da ditadura do lulo-petismo.
A cada cassado perdoado, a cada negação do óbvio, a cada testemunha muda, aumenta a sensação de que as idéias não correspondem mais aos fatos!
Pior: que os fatos não são nada - só valem
as versões, as manipulações.

No último ano, tivemos um único momento de verdade, louca, operística, grotesca, mas maravilhosa, quando o Roberto Jefferson abriu a cortina do país
e deixou-nos ver os intestinos de nossa política.

Depois surgiram dois grandes documentos históricos: o relatório da CPI dos Correios e o parecer do procurador-geral da República.
São verdades cristalinas, com sol a pino.
E, no entanto, chegam a ter um sabor quase de "gafe". Lulo-Petistas clamam: "Como é que a Procuradoria Geral, nomeada pelo Lula, tem o desplante de ser tão clara!

"Como que o Osmar Serraglio pode ser tão explícito, e como o
Delcídio Amaral não mentiu em nome do PT?
Como ousaram ser honestos?".
Sempre que a verdade eclode, reagem. Quando um juiz condena rápido, é chamado de "exibicionista".
Quando apareceu aquela grana toda no
Maranhão (lembram, filhinhos?), a família Sarney reagiu
ofendida com a falta de "finesse" do governo de FH, que não teve
a delicadeza de avisar que a polícia
estava chegando... Mas agora é diferente.
As palavras estão sendo esvaziadas de sentido.
Assim como o stalinismo apagava fotos, reescrevia textos para
contestar seus crimes, o governo do Lula está criando uma língua nova, uma neo-língua empobrecedora da ciência política, uma língua esquemática, dualista, maniqueísta, nos preparando para
o futuro político simplista que está se consolidando no horizonte. Toda a complexidade rica do país será transformada em uma massa de palavras de ordem, de preconceitos ideológicos movidos a dualismos e oposições, como tendem a fazer o populismo e o simplismo.

Lula será eleito por uma oposição mecânica entre ricos e pobres, dividindo o país em "a favor" do povo e "contra", recauchutando significados que não dão mais conta da circularidade do mundo atual.
Teremos o "sim" e o "não", teremos a depressão da razão de um lado e a psicopatia política de outro, teremos a volta da oposição Mundo x Brasil, nacional x internacional e um voluntarismo que legitima o governo de um Lula 2 e um Garotinho depois. Alguns otimistas dizem: "Não... este maremoto de mentiras nos dará uma fome de verdades."


Não concordo, e nem poderia, quando Jabor diz que este artigo
é repetitivo e inútil. Nós o passaremos pra frente.

Marco Angeli, julho de 2007

quinta-feira, 26 de julho de 2007

O VÔO 3054

Estamos acostumados ou até anestesiados mesmo com a incompetência crônica dos orgãos governamentais que cuidam do consumidor e seus direitos, como a Infrero, Anac, Anatel e até das concessionárias de serviços públicos como a Telefonica, campeã absoluta em ineficiência e desrespeito àqueles que pagam para que ela continue monopolizando o serviço de
telefonia fixa em São Paulo.
Essa postura alienada vem diretamente dos altos escalões do governo, estamos carecas de saber.
O Jabor, inclusive, coloca a coisa como uma infestação que corre solta, um vírus de descaso e ganância pelo poder.
Esse descaso, entretanto, assume uma proporção simplesmente aterradora quando é o responsável direto pela morte de quase 200 pessoas, quando o airbus A320 se espatifou- literalmente- contra o edifício da própria TAM no dia 17 de julho, em São Paulo.

Todas as fotos são da Veja, reportagem exemplar

Os destroços do airbus, a pouco menos de 100 mts da pista

Considerações e caixas pretas à parte, e colocando-se de lado a habitual e previsível enrolação do governo, existe apenas uma verdade absoluta e incontestável:
Independente de erros técnicos, de condução da aeronave pelos pilotos, de reversos pinados, de chuva, ou do que quer que tenha acontecido naquele momento em que o airbus não conseguiu pousar, a responsabilidade pela segurança do aeroporto e pelos passageiros do vôo 3054 era dos orgãos do governo que só em teoria se destinam à essa função- como a Infraero.

A vida ou a morte através do rádio

Que permitiu, de olhos fechados, que um aeroporto com a pista a 50 metros de casas, avenidas e pessoas operasse com uma quantidade de vôos claramente superior à que deveria.
Ou que liberou uma pista principal que ainda estava inacabada, sem o grooving, que drena a água da chuva e poderia impedir uma eventual aquaplanagem. Segundo funcionários da Infraero, o grooving seria aplicado no próximo dia 27.
Então, porque a pista estava liberada?
Não importa se foi isso ou não que causou o acidente terrível.
O que interessa mesmo é observar a conduta dos responsáveis do governo em relação ao assunto.

João Brás Pereira, da Infraero: piada como ser humano

Pessoas, vítimas das planilhas de estatísticas do governo.
Números apenas

Marco Aurélio Garcia, feliz literalmente por ter tirado o deles da reta. Ilusão apenas

Christiane Bueno: filhos de 17 e 12 anos perdidos no A320.
Desespero e dor pela TV

Conduta de João Brás Pereira, por exemplo, que cercado de outros funcionários da Infraero como ele próprio, apontavam a cena onde corpos eram retirados dos escombros e riam, riam.
Riram durante cinco minutos, segundo a Veja, e só pararam quando perceberam que estavam sendo fotografados.
João Brás, lembre-se, é supervisor do aeroporto.
Ou do assessor do Lula, Marco Aurélio Garcia, e um auxiliar, que comemoram uma notícia qualquer que- naquele momento- lhes pareceu que isentaria o governo de responsabilidade no assunto.
Comemoração grosseira, chula.

Ou na ausência inexplicável do próprio Lula, que preferiu escutar seus marqueteiros de plantão e tentar preservar sua imagem, sumindo de cena durante três dias.
Verdadeiros líderes, sabe-se, em momentos de comoção como esse agem como líderes, deixando os interesses políticos de lado e colocam-se ao lado do povo que os elegeu, como seres humanos que são, não como políticos que não deveriam ser.
Patético, como patético é seu discurso posterior, recheado de clichês habituais sobre tristeza profunda e sobre a certeza de que agora sim vai tomar as medidas necessárias.
200 mortes. Mais as do vôo 1907, da Gol, em setembro de 2006.
Quase 400 mortes de pessoas inocentes. Famílias inteiras.

E, dias depois, observamos sem entender nada Milton Zuanazzi, presidente da Anac, agência que fiscaliza o setor aéreo, receber uma condecoração por bons serviços prestados.
Isso depois de meses dessa crise infindável da aviação no país.
Enfim, o que finalmente restará de tudo isso serão famílias destroçadas pelas mortes do vôo da TAM, a tristeza que todos sentimos por eles, e pela sensação que temos
de que o acidente poderia ser evitado, simplesmente.

Milton Zuanazzi, medalhinha inesquecível

Os políticos e seus apadrinhados passarão, como todos passaram.
Terão aproveitado enquanto puderam.
Mas alguns terão deixado sua marca, contabilizada no dia 17.
Uma marca terrível.

Em tempo: As matérias das revistas como a Veja acabam
sendo esquecidas, com o tempo.
Minha intenção ao colocar este post é justamente a
de tentar manter viva, de alguma forma, a lembrança
desse acontecimento trágico através das fotos
da própria Veja, que dá uma lição de jornalismo à
todos aqueles que tentam desmerecer
a imprensa séria deste país.

Marco Angeli, julho de 2007