Meu pai fazia limonadas.
Curtia, fazia devagarinho, concentrado, aquele cheiro de limão no ar...
Menino, eu adorava as limonadas de meu pai...
acho que foram o saborda minha infância...
Hoje meu filho me pegou assobiando e espremendo limões,
na cozinha, como meu pai fazia.
Intrigado, parou na porta e me perguntou:
-O que tá fazendo?
-Limonada, respondi. Meu pai fazia. Era bem bacana...
Ele sorriu, ainda intrigado, e lá se foi para seu XBox lutar contra alguns
guerreiros ou viajar para outro planeta.
Acho que nunca me viu fazendo limonada.
Pensei em meu pai.
E tive saudades...
Mario Angeli, autoretrato à lápis, cerca de 1950
Alberto Lins Caldas, poeta e filósofo, transformou meu textinho em poema,
um belo presente:
meu pai fazia limonadas
devagarzinho concentrado
aquele cheiro de limão no ar
eu adorava essas limonadas
foram o sabor
da minha infância
hoje meu filho me pegou assobiando
espremendo limões como meu pai fazia
ele me perguntou
“que tá fazendo?”
respondi “limonada
como meu pai fazia”
E o texto lindo de Tarcisa Marques Porto, comentando o texto:
Que lindo, Marco. E ... da saudade fazemos como o ditado ...
Do limão uma limonada ...
Descobrimos aromas no ar, nossos filhos que continuam a família ...
A saudade doi mesmo. O tempo atenua ... mas não há cura ...
Tempo de nascer, crescer e partir ... já dizia o grande Mestre dos Mestres.
Bonito seu filho ver em você um pouco do seu pai, mesmo que no seu silêncio,
é a herança que passa ... de pai para filho.
A postura, o comportamento, a atitude ... o aroma ...
Tudo isso fica. Para sempre ...
Obrigado, Alberto, obrigado Tarcisa...
guardaremos esses textinhos, para um dia...
Marco Angeli, novembro de 2010
Não há como não se emocionar com o gesto e com as palavras. Enquanto meus olhos percorriam o texto, veio-me à mente uma cena linda e comovente... Ligados pelo amor, por uma fração de segundo, você ao fazer a limonada, (seu pai) mostrou-se em espirito a seu lado e, no momento em que (voce) vagarosamente espremia os limões, na tentativa de reviver o passado, êle amorosamente pousou a mão sobre a sua. Juntos, fizeram mais que limonada, abraçaram-se em espírito. Não sei como mas, houve uma transmutação do ambiente que ficou inundado do perfume da flor de limão.
ResponderExcluirO amor entre pais e filhos, quando verdadeiro, transcende a materia.
Pena eu não saber desenhar........
Ah, esqueci-me de acrescentar........por essas e outras, Gitano, que eu adoro o RETRATOS DA VIDA!
ResponderExcluirLeitora de carteirinha kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk