Assombrados vemos ressurgir das cinzas dos porões
mais fundos da corrupção brasileira Fernando Collor,
com seu estilo inconfundível.
Um estilo aparentemente genético, já que seu pai,
o senador Arnon de Mello, sacou uma arma em pleno
Senado Federal, em 4 de dezembro de 1963, e mandou
bala em seu inimigo político, Silvestre Péricles.
Péricles, rápido como um raio, também sacou uma arma
e iniciou-se um tiroteio no Senado, contado por
Luiz Antonio Simas em seu blog.
O Globo, dezembro de 1963Ruim de mira, Arnon acabou assassinando um suplente com
um tiro no peito, diante da esposa e as filhas.
Gozando de imunidade paralmentar, jamais respondeu
pelo crime e sequer se deu ao trabalho de ajudar a viúva e
filhas do suplente assassinado, que óbviamente passaram
por dificuldades nos anos seguintes.
Não foi á toa, portanto, que Pedro Simon se declarou
assustado com a carranca de Fernando Collor num bate boca
há pouco no Senado, enriquecido pelas pérolas
de nível duvidoso de Collor, que, secundado por Renan Calheiros,
se transformam na marca registrada
da tal Tropa de Choque.
Collor, back to the old times, apavorando no SenadoPedro Simon se lembrou de Arnon, claro.
No centro da crise que abala o Senado, causada pela
resistência tenaz de José Sarney em não sair do cargo que
ocupa como presidente apesar das dezenas de acusações que
pesam sobre ele, Fernando Collor repentinamente se une
à Renan Calheiros e forma a chamada Tropa de Choque, para
defender o colega e seus próprios interesses, óbviamente.
Em manobras descaradamente autoritaristas, típicas
e exaustivamente vistas no período em que Collor era
presidente, todas as acusações contra Sarney foram
arquivadas sumáriamente pelo suplente de suplente
Paulo Duque, alegremente alavancado pelo grupo
à condição de presidente do Conselho de Ética, entidade cujo nome carece, nesse momento, de
qualquer significado.
Tenho ouvido por estes dias que o senador Pedro Simon
-uma eterna pedra no sapato do fisiológico PMDB- e
alguns analistas políticos consideram, acertadamente, que Sarney
só deixará o cargo se pressionado pela opinião pública.
Irônicamente é a própria figura de Fernando Collor que
traz à baila -mais do que qualquer outra -a evidência
da força incontestável da mobilização pública e seu poder.
Em setembro de 1992, Collor foi retirado do poder na marra,
através do impeachment, graças à força do povo nas ruas.
Revista Veja, agosto de 1992, o povo nas ruasImportante e bem significativa é a lembrança de que, na época,
um dos que pediam mais veementemente sua cabeça
era José Sarney.
Em 16 de agosto de 1992 surgiram os
caras pintadas na
história do Brasil, um contraponto alegre e colorido às
multidões vestidas de preto que saíam às ruas pedindo o
impeachment. As caras pintadas foram o repúdio dos
estudantes ao pedido de Collor para que o povo colocasse
bandeiras nas casas para apoiá-lo.
Estudantes caras pintadas, na Veja de setembro de 1992Collor caiu finalmente, e perdeu os direitos políticos
por -
infelizmente- apenas oito anos.
O exemplo histórico de 1992 vale para hoje claramente,
como acredita Pedro Simon.
Capa histórica de Veja, 30 de setembro de 1992Empresários, funcionários de estatais e empresas privadas
e todo trabalhador brasileiro sabe que a
manutenção do trio Renan/Collor/Sarney na vida política
é um retrocesso profundo, social e econômico para o país,
um retorno fatal ao coronelismo e às oligarquias.
Sabe também, e isso ficou mais do que evidente com as
denúncias feitas pelo jornal
Estado se São Paulo, que
à esse trio notório não interessam crescimento, progresso,
ou qualquer avanço da nação, apenas o benefício
e o poder que possam conseguir para si próprios e seus
apadrinhados, como Paulo Duque, necessários para que seu
esquema continue funcionando.
Mas a imprensa e a opinião pública pode acabar com isso.
E deve.
Tenho sugerido,inspirado nos caras pintadas de 1992,
quando ainda não tínhamos a net, que todos pintem suas
fotos de perfis no Facebook, no Orkut, no MSN...com
as faixinhas verde amarelas...demonstrando nossa
indignação perante o autoritarismo, que levou
inclusive à censura do jornal Estado de São Paulo.
Pedro Simon, cara pintada
Se inundarmos a net com carinhas pintadas, as imagens por
si só serão fortes o suficiente para lembrar a lição
histórica que dois deles, Renan e Calheiros, já tiveram.
E dar essa mesma lição no terceiro, José Sarney.
Minha namorada, discreta e avessa à exposições
desnecessárias, graças talvez à família e formação
militares, questionou minha posição em relação à tudo isso,
já que eu poderia simplesmente pintar e e ignorar.
Na minha resposta à ela está a resposta que define
minha motivação.
Em 26 de agosto, na Veja, o depoimento muito bacana de
Elaine Barreto Santos, de 15 anos, estudante do Rio de Janeiro
que foi às ruas pedir o impeachment de Collor.
"Eu prezo muito minha liberdade. Liberdade para
protestar contra uma quadrilha que está no poder roubando
dinheiro, enquanto, nas ruas das cidades brasileiras,
meninos roubam para poder comer."
Clique, amplie e leia, vale a pena realmente.Há trinta anos ou um pouco mais tenho meu studio e
trabalho com arte. Está aí para quem quiser ver.
No entanto hoje minha posição não é definida por esses
trinta anos passados.
É definida pelos trinta anos que virão.
Que serão os anos em que meu filho viverá, trabalhará,
constituirá uma família, como todos nós.
Victor Angeli, meu filho: e o futuro?Por esses anos futuros estarei no dia 15 no Masp,
fotografando e registrando mais essa data histórica.
Com a cara pintada.
Links relacionados:
Movimento Fora SarneyCampanha Rir para não ChorarInternautas organizam protestoJá vai, José?Nariz de palhaçoTenho vergonha dos políticos corruptosMarco Angeli, agosto de 2009