A primeira imagem que tenho da Claudinha é engraçada.
Quando fui mediador do Forum de Arte de Barueri,
meio atrapalhado, administrando perguntas da platéia e
preocupado em não estourar o tempo previsto, fui chamado
por alguém lá embaixo, no escuro, na frente do palco.
Era a Claudinha, brava.
Ela me pediu ou mandou...heheheh..., que mudasse o rumo
das perguntas, já que a coisa estava assumindo um aspecto
muito professoral e aquilo não era entendível pela maior
parte da platéia.
Tomei um susto, e como ela tinha razão, fiz o que pude.
Essa imagem da menina brava ficou comigo, mas mais tarde
acabamos nos conhecendo e fiquei encantado
com seu trabalho, principalmente o que faz com as
crianças, um sonho que sempre tive mas que,
por vários motivos nunca consegui realizar.
Na verdade, descobri depois que acabei confundindo
a rapidez e objetividade dela com brabeza.
Descobri principalmente na observação de seu trabalho,
que mostra claramente essas características, além, claro,
da beleza. Que é fundamental.
Abaixo, Claudia Melo por ela mesma:
"Nasci em um dos locais considerados o berço
da humanidade. Os primeiros resquícios de um homem
construtivo e criativo estão lá, na Serra da Capivara, no Piauí.
(...) Atualmente meu amor assumido é a escultura. Ela já estava
presente em minha vida nas brincadeiras de criança, quando
entrava no rio para pegar argila e fazer bonequinhos,
para mim já esculturas.
Claudia Melo e a argila: nascidas uma para a outra
Sempre desenhei, desde os 3 anos.
Chorava de medo com alguns desenhos mas estava sempre
alí, desenhando o Wolverine e outros personagens
muito especiais dos quadrinhos.
(...) Aos 9 anos comecei com as oficinas oferecidas pela
Prefeitura de Barueri, e não parei mais.
Resolvi fazer o curso técnico de Edificações só pelo desenho.
Foi assim que, levada pela professora de Arte ao
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo onde toda a Grécia antiga e o
Renascimento italiano são mostrados, que conheci David,
de Michelangelo, e resolvi ser escultora (...).
Primeiro de dois painéis sobre a história de Barueri:
mais de uma tonelada de argila, em 3 mts de largura
Detalhe. A idéia é finalizar em bronze.
O segundo painel na oficina de Claudia,
na sede da Secretaria da Cultura de Barueri
Assim, quando minha professora nos pediu um trabalho
sobre o barroco mineiro, decidi por esculpir a cabeça de um
dos profetas do Aleijadinho, trabalho que tenho até hoje.
(...) Minha intenção inicial era fazer o trabalho em pedra,
mas conheci por acaso um escultor contratado pela prefeitura
que me convenceu a começar com argila, pois através dela
domina-se qualquer material. Ele estava certo.
Mesmo os gregos, Michelangelo ou Rodin começavam assim
trabalhando em suas peças e depois passavam
á pedra ou à madeira.
Em 2000 me formei em Edificações, mas não gostava de
trabalhar nessa área.
(...) Entrei em contato com a Artesanato Costa, que trabalhava
com esculturas de santos, fui contratada e acabei ficando
1 ano modelando as matrizes das peças encomendadas por
seus clientes. Lá aprendi várias técnicas de pintura com
aerógrafo e restauração em gesso.
O trabalho de Claudia, moldado em argila
(...) Saí de lá em 2003 para fazer a Faculdade de Artes
São Judas Tadeu. Em 2003 mesmo fiz meus primeiros trabalhos
para Barueri: o então Secretário da Cultura, Palma, me
encomendou 7 bustos de artistas que estão hoje nas bibliotecas
da cidade: Mário de Andrade, Cecília Meireles, José Lins do Rego,
Ziraldo, Graciliano Ramos, Pe. Antonio Vieira e Castro Alvez.
(...) Nesse mesmo período comecei a trabalhar em um projeto
social, o PROETi, em Santana de Parnaíba, com aulas de escultura
para crianças em zonas de risco nas escolas da cidade.
Saí do projeto em 2003 para trabalhar na Bienal como
monitora, uma experiência importante, que me serviu para uma
reflexão sobre a Arte Contemporânea, e que me deixou muito
mais flexível à novas idéias.
(...) Em 2004, dando aula num outro projeto social,
Casa da Gente do Netinho de Paula, quatro de meus alunos
ganharam um concurso pintando suas famílias e tiveram suas
obras permanentemente expostas no Museum Of Children, nos EUA.
Claudia na oficina, e uma de suas alunas, Elane Zeferine:
argila e terapia
Faço hoje, para a freira italiana Liliana,
da Casa das Irmãs Operárias,
a imagem de Nossa Senhora da Escuta, além de trabalhar para
o padre Ettore, também italiano, com uma escultura de Cristo.
O rosto de Cristo, em argila,
está em Roma, levado pelo padre Ettore.
Em 2005 me formei em Artes.
Em 2006, realizei uma mostra de pinturas e esculturas em Barueri
e apresentei um projeto de oficinas para o Secretário de Cultura,
Getúlio, que monta o curso gratuito com todos os equipamentos
necessários na própria Secretaria da Cultura.
Permaneço aqui até hoje.
Os santos, presença constante nos moldes de Claudia
(...) Em 2007, convidada pelo escultor Murillo, de
Santana de Parnaíba, fui contratada pela
ONG Fenix para ser professora de escultura
no projeto Arte Sacra, patrocinado pelo Criança Esperança
da Unesco, dirigido à crianças carentes da região
de Pirapora do Bom Jesus. O projeto durou dois anos e vi
com satisfação o resultado de sua boa influência
nos jovens da região que participaram.
(...) Fiz, nesse mesmo período, a escultura do troféu FEMUPO,
encomendado pelo Secretário Getúlio.
Faço parte atualmente do Núcleo de Artes Visuais de Barueri,
e estou modelando um grande painel que conta a história
de Barueri, e pretendo finalizá-lo em bronze.
Esse trabalho atraiu vários admiradores, e estou honrada
de estar entre eles o grande Marco Angeli."
Claudia Melo, maio de 2009
Coloquei essa última frase da Claudinha aqui porque ela
foi motivo de muita piada aqui no studio.
Em primeiro lugar, nem sou tão grande assim, tenho só
1,79 cm de altura.
E em segundo, sériamente, a minha admiração por ela tem
várias razões, uma delas é pelo talento invejável que tem em
modelar tudo o que vê pela frente, rápida, com uma intuição
e uma técnica gestual maravilhosa.
Tanto que alguns artistas -entre eles eu mesmo- como o
Edgar Moretti, chegaram a pedir para que ela parasse no
'esboço' da escultura, mostrando esse gestual,
como nas esculturas de Rodin.
No meu studio, tivemos algumas idéias de uso do aerógrafo
para as esculturas de argila dela e estamos testando.
Ela, em contrapartida, quer que eu comece a modelar
com argila. Não sei...quem viver verá.
Marco Angeli, junho de 2009
Este, seguramente, foi um dos relatos mais lindos do RETRATOS DA VIDA. Será que o painel ficou pronto? Estará exposto? Por onde andará a escultora Claudia Melo? Nada disso teria chegado até nós, não fosse a sensibilidade e a generosidade do dono do blog: MARCO ANGELI.
ResponderExcluirÉ gratificante passear por aqui...
Sinto-me à vontade...isto faz parte de um pedaço de minha vida!