Leio hoje, incrédulo, como suponho milhares de outras
pessoas, que um dos policiais acusados de matar
o menino João Roberto Amorim, na Tijuca,
foi absolvido por um júri popular.
Paulo Roberto Soares, pai de João Roberto:
"Me recuso a me transformar num assassino e ter que
fazer justiça. Isso não pode ficar assim."
O cabo William de Paula foi condenado pelo que
designaram de 'lesões corporais leves' e condenado à
sete meses de prestação de serviços comunitários.
A sentença é óbviamente uma aberração, uma inversão
de qualquer lógica possível e -pior- uma constatação cruel
da completa apatia e do estado de piração crônica das
pessoas, levadas à um estado de banalização do que,
acredito ainda, temos de mais precioso -a vida.
A ação dos policiais...
E a consequência: o carro onde estavam Alessandra
e os dois filhos -pelo menos 17 tiros
Essa constatação é mesmo a mais grave, quando um casal
de classe média aparentemente normal esgana e atira
a própria filha de um deles pela janela como no caso
dos Nardoni. Ou quando um menino, em Santo André, sem
qualquer antecedente criminal sequestra e assassina a
ex namorada Eloá e quase dá o mesmo destino à amiga
dela. Ou de caras andando em linha reta, em alta
velocidade, na contramão, por quilometros e quilometros,
até o fim óbvio de sua corrida: uma carreta ou outro carro.
Ou mães que jogam -literalmente- seus próprios filhos
recém-nascidos na sarjeta.
Não são casos raros, como já foram.
É o que mais impressiona em todos os casos que
hoje, cada vez mais frequentemente, acontecem.
Hoje, entretanto, além da Susane que encomenda e
observa o assassinato a pauladas dos próprios pais,
do rapaz que no Pacaembu, atira pessoalmente no pai e na
madrasta e depois volta tranquilamente ao
local do crime, existe uma quantidade cada vez maior de
pirados sem qualquer tipo de antecedentes violentos matando
os próprios filhos, avós, pais.
No caso do menino João Roberto, sem se considerar
os aspectos legais ou morais do fato, o espantoso é que
haviam pelo menos quatro pirados no júri que absolveu
o cabo pelo homicídio qualificado de uma criança inocente
dentro de um carro com a mãe e o irmão de nove meses.
Os tiros, três dos quais acertaram João Roberto,
e por pura sorte não acertaram também a mãe o o irmão
de nove meses
Isso é o mais espantoso. Não é espantoso o notório despreparo
psicológico da polícia, principalmente do Rio, nem a violência
generalizada e banalizada que se espalha por aí.
Nem o bombardeio da mídia, na ânsia de uns míseros pontinhos
no Ibope é espantoso, nem a incompetência dos governos
em conter a violência.
O estarrecedor mesmo é que mais uma vez vemos pessoas
aparentemente normais, com certo bom senso, baterem
de frente -por medo, apatia ou uma abjeta inversão de valores-
com uma das mais valiosas e importantes leis da
humanidade: a de que a vida humana tem que ser respeitada e
que não se pode, por dever, acaso, ruas escuras, erros, ou
seja lá que diabo for, tirá-la.
E que o que tira a vida de um inocente deve ser condenado.
Paulo Roberto: coragem...e Alessandra: atônita
Por quatro votos a três, o cabo foi práticamente inocentado.
E abriu um perigoso precedente para o julgamento
do próximo policial envolvido, que acontecerá nos
próximos dias.
A expressão atônita de Alessandra Amorim e a indignação
do pai, após o incrível veredito, são mais do que
suficientes. Alessandra andava de carro com os dois filhos
pequenos após a visita a uma tia, encostou o carro para dar
passagem à polícia que perseguia outro veículo e teve seu
carro metralhado e um dos filhos morto com três tiros pelos policiais.
Alessandra, após o veredito: triste, incrédula
A cena seguinte é de um dos policiais voltando a trabalhar,
'internamente', práticamente absolvido.
Espantoso, sinal talvez deste tempos pirados em que vivemos.
Marco Angeli, dezembro de 2008
pessoas, que um dos policiais acusados de matar
o menino João Roberto Amorim, na Tijuca,
foi absolvido por um júri popular.
Paulo Roberto Soares, pai de João Roberto:
"Me recuso a me transformar num assassino e ter que
fazer justiça. Isso não pode ficar assim."
O cabo William de Paula foi condenado pelo que
designaram de 'lesões corporais leves' e condenado à
sete meses de prestação de serviços comunitários.
A sentença é óbviamente uma aberração, uma inversão
de qualquer lógica possível e -pior- uma constatação cruel
da completa apatia e do estado de piração crônica das
pessoas, levadas à um estado de banalização do que,
acredito ainda, temos de mais precioso -a vida.
A ação dos policiais...
E a consequência: o carro onde estavam Alessandra
e os dois filhos -pelo menos 17 tiros
Essa constatação é mesmo a mais grave, quando um casal
de classe média aparentemente normal esgana e atira
a própria filha de um deles pela janela como no caso
dos Nardoni. Ou quando um menino, em Santo André, sem
qualquer antecedente criminal sequestra e assassina a
ex namorada Eloá e quase dá o mesmo destino à amiga
dela. Ou de caras andando em linha reta, em alta
velocidade, na contramão, por quilometros e quilometros,
até o fim óbvio de sua corrida: uma carreta ou outro carro.
Ou mães que jogam -literalmente- seus próprios filhos
recém-nascidos na sarjeta.
Não são casos raros, como já foram.
É o que mais impressiona em todos os casos que
hoje, cada vez mais frequentemente, acontecem.
Hoje, entretanto, além da Susane que encomenda e
observa o assassinato a pauladas dos próprios pais,
do rapaz que no Pacaembu, atira pessoalmente no pai e na
madrasta e depois volta tranquilamente ao
local do crime, existe uma quantidade cada vez maior de
pirados sem qualquer tipo de antecedentes violentos matando
os próprios filhos, avós, pais.
No caso do menino João Roberto, sem se considerar
os aspectos legais ou morais do fato, o espantoso é que
haviam pelo menos quatro pirados no júri que absolveu
o cabo pelo homicídio qualificado de uma criança inocente
dentro de um carro com a mãe e o irmão de nove meses.
Os tiros, três dos quais acertaram João Roberto,
e por pura sorte não acertaram também a mãe o o irmão
de nove meses
Isso é o mais espantoso. Não é espantoso o notório despreparo
psicológico da polícia, principalmente do Rio, nem a violência
generalizada e banalizada que se espalha por aí.
Nem o bombardeio da mídia, na ânsia de uns míseros pontinhos
no Ibope é espantoso, nem a incompetência dos governos
em conter a violência.
O estarrecedor mesmo é que mais uma vez vemos pessoas
aparentemente normais, com certo bom senso, baterem
de frente -por medo, apatia ou uma abjeta inversão de valores-
com uma das mais valiosas e importantes leis da
humanidade: a de que a vida humana tem que ser respeitada e
que não se pode, por dever, acaso, ruas escuras, erros, ou
seja lá que diabo for, tirá-la.
E que o que tira a vida de um inocente deve ser condenado.
Paulo Roberto: coragem...e Alessandra: atônita
Por quatro votos a três, o cabo foi práticamente inocentado.
E abriu um perigoso precedente para o julgamento
do próximo policial envolvido, que acontecerá nos
próximos dias.
A expressão atônita de Alessandra Amorim e a indignação
do pai, após o incrível veredito, são mais do que
suficientes. Alessandra andava de carro com os dois filhos
pequenos após a visita a uma tia, encostou o carro para dar
passagem à polícia que perseguia outro veículo e teve seu
carro metralhado e um dos filhos morto com três tiros pelos policiais.
Alessandra, após o veredito: triste, incrédula
A cena seguinte é de um dos policiais voltando a trabalhar,
'internamente', práticamente absolvido.
Espantoso, sinal talvez deste tempos pirados em que vivemos.
Marco Angeli, dezembro de 2008
O texto está equivocado no que há de realmente importante. Deixa subentendido que o governo e a polícia são incompetentes e propensas a cometer erros catastróficos. Grande mentira essa. O governo, a mídia e a polícia sabem exatamente o que estão fazendo e o executam com sinistra eficiência. O objetivo deles é fazer o mesmo que os militares na época da ditadura: espalhar o medo na população, dificultando qualquer reação mais inteligente ou incisiva contra o estado e o governo. Isto está acontecendo, de um modo ou de outro, em toda parte. O sentimento de indignação é canalizado contra o próprio cidadão e o sentimento de revolta contra as autoridades e contra as instituições é transformado em frustração por parte de quem esperava que alguma justiça fosse feita. A "justiça" mostra um cinismo, uma zombaria, um riso doente ante as aflições, ante a angústia do cidadão fustigado pela máquina do estado. Não haverá justiça verdadeira enquanto AS INSTITUIÇÕES e a própria DEMOCRACIA não forem modificadas. A democracia que vivemos é "amputada, sequestrada" [SARAMAGO] - quem toma as decisões não é o povo, mas uma cúpula central que nos quer todos escravos e sente um "refinado prazer" [BERTRAND RUSSEL] ante os sofrimentos intensos da população. Eu estou lutando para ser ouvido também. Sou outra vítima, mas simplesmente não me escutam. A verdade está aí. Quem tem olhos, veja.
ResponderExcluirIndependente das opinoes fico me perguntando como estara' a vida dos pais do menino Joao Roberto...a vida nao parou, e nao para para ninguem.
ResponderExcluirDolorosamente, um dia apos o outro, tendo que conviver com esta tragica perda...
Mesmo que a Justica dos homens seja feita, nada trara' o filho deles de volta.
Reconstruir a vida apos esta tragedia, este e' o desafio!
Basta ter fe'? Nao sei. So' sei que ha' vida em cada pedacinho deste planeta.. e certamente o menino Joao Roberto esta' num deles...nos vendo, e rogando misericordia por nos.
elisa