quinta-feira, 26 de julho de 2007

O VÔO 3054

Estamos acostumados ou até anestesiados mesmo com a incompetência crônica dos orgãos governamentais que cuidam do consumidor e seus direitos, como a Infrero, Anac, Anatel e até das concessionárias de serviços públicos como a Telefonica, campeã absoluta em ineficiência e desrespeito àqueles que pagam para que ela continue monopolizando o serviço de
telefonia fixa em São Paulo.
Essa postura alienada vem diretamente dos altos escalões do governo, estamos carecas de saber.
O Jabor, inclusive, coloca a coisa como uma infestação que corre solta, um vírus de descaso e ganância pelo poder.
Esse descaso, entretanto, assume uma proporção simplesmente aterradora quando é o responsável direto pela morte de quase 200 pessoas, quando o airbus A320 se espatifou- literalmente- contra o edifício da própria TAM no dia 17 de julho, em São Paulo.

Todas as fotos são da Veja, reportagem exemplar

Os destroços do airbus, a pouco menos de 100 mts da pista

Considerações e caixas pretas à parte, e colocando-se de lado a habitual e previsível enrolação do governo, existe apenas uma verdade absoluta e incontestável:
Independente de erros técnicos, de condução da aeronave pelos pilotos, de reversos pinados, de chuva, ou do que quer que tenha acontecido naquele momento em que o airbus não conseguiu pousar, a responsabilidade pela segurança do aeroporto e pelos passageiros do vôo 3054 era dos orgãos do governo que só em teoria se destinam à essa função- como a Infraero.

A vida ou a morte através do rádio

Que permitiu, de olhos fechados, que um aeroporto com a pista a 50 metros de casas, avenidas e pessoas operasse com uma quantidade de vôos claramente superior à que deveria.
Ou que liberou uma pista principal que ainda estava inacabada, sem o grooving, que drena a água da chuva e poderia impedir uma eventual aquaplanagem. Segundo funcionários da Infraero, o grooving seria aplicado no próximo dia 27.
Então, porque a pista estava liberada?
Não importa se foi isso ou não que causou o acidente terrível.
O que interessa mesmo é observar a conduta dos responsáveis do governo em relação ao assunto.

João Brás Pereira, da Infraero: piada como ser humano

Pessoas, vítimas das planilhas de estatísticas do governo.
Números apenas

Marco Aurélio Garcia, feliz literalmente por ter tirado o deles da reta. Ilusão apenas

Christiane Bueno: filhos de 17 e 12 anos perdidos no A320.
Desespero e dor pela TV

Conduta de João Brás Pereira, por exemplo, que cercado de outros funcionários da Infraero como ele próprio, apontavam a cena onde corpos eram retirados dos escombros e riam, riam.
Riram durante cinco minutos, segundo a Veja, e só pararam quando perceberam que estavam sendo fotografados.
João Brás, lembre-se, é supervisor do aeroporto.
Ou do assessor do Lula, Marco Aurélio Garcia, e um auxiliar, que comemoram uma notícia qualquer que- naquele momento- lhes pareceu que isentaria o governo de responsabilidade no assunto.
Comemoração grosseira, chula.

Ou na ausência inexplicável do próprio Lula, que preferiu escutar seus marqueteiros de plantão e tentar preservar sua imagem, sumindo de cena durante três dias.
Verdadeiros líderes, sabe-se, em momentos de comoção como esse agem como líderes, deixando os interesses políticos de lado e colocam-se ao lado do povo que os elegeu, como seres humanos que são, não como políticos que não deveriam ser.
Patético, como patético é seu discurso posterior, recheado de clichês habituais sobre tristeza profunda e sobre a certeza de que agora sim vai tomar as medidas necessárias.
200 mortes. Mais as do vôo 1907, da Gol, em setembro de 2006.
Quase 400 mortes de pessoas inocentes. Famílias inteiras.

E, dias depois, observamos sem entender nada Milton Zuanazzi, presidente da Anac, agência que fiscaliza o setor aéreo, receber uma condecoração por bons serviços prestados.
Isso depois de meses dessa crise infindável da aviação no país.
Enfim, o que finalmente restará de tudo isso serão famílias destroçadas pelas mortes do vôo da TAM, a tristeza que todos sentimos por eles, e pela sensação que temos
de que o acidente poderia ser evitado, simplesmente.

Milton Zuanazzi, medalhinha inesquecível

Os políticos e seus apadrinhados passarão, como todos passaram.
Terão aproveitado enquanto puderam.
Mas alguns terão deixado sua marca, contabilizada no dia 17.
Uma marca terrível.

Em tempo: As matérias das revistas como a Veja acabam
sendo esquecidas, com o tempo.
Minha intenção ao colocar este post é justamente a
de tentar manter viva, de alguma forma, a lembrança
desse acontecimento trágico através das fotos
da própria Veja, que dá uma lição de jornalismo à
todos aqueles que tentam desmerecer
a imprensa séria deste país.

Marco Angeli, julho de 2007

2 comentários:

  1. O mais inacreditável disto tudo, é mesmo a anestesia que paira no ar diante da tragédia!! Estamos vivendo a banalização da humanidade!!E se fosse alguém próximo a nós?? Um familar, amigo, parente, nós mesmos???
    Que força é essa que faz pessoas, de vidas tão distintas se encontrarem num mesmo lugar, para juntas terminarem num destino tão cruel!!! Reponsáveis. Espero que apareçam e que este não seja apenas outra página triste, desnecessária e injusta da história.

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  2. Chuva, noite, pista, avião, aeroporto, cidade, 3mm de lençol de água, "no grooving", pouca visibilidade, 60 toneladas, turbina, reverso do motor, apagão aéreo, filas de espera, falta de informação, greve de controladores, falta de investimentos, descaso... E o mais importante: 200 vidas que se foram... Agora somos quase 200 milhões de pessoas perguntando, Porquê?
    A resposta?
    Chuva,noite...

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